terça-feira, abril 27, 2004

Sol Nascente, O Prisioneiro

Penetrado por uma
Criatividade que não pensa,
Choro estas palavras
Rio estes versos

quinta-feira, abril 08, 2004

Noite De Mar

Durante as noites em que as ondas batem mais compassadas, ao ritmo do sono que não chega, este som a natureza torna-se a minha única companhia.

Já este mar de encantos, nunca se queixa de não dormir. Isto julgo eu...

Pois é bem possível que este som seja apenas o seu constante lamento por não poder dormir. Não poder repousar.

Pudesse eu perceber a linguagem do mar e nada mais faria, amigo meu - que tiraste uns minutos do teu tempo para me ler, que contar-te tudo, de tudo o que ele me diz. Suas divagações, seus caprichos, suas dores, seus sentimentos...

Porque mar que fala sente concerteza, senão para que quereria ele falar?!

De dia o mar não canta do mesmo modo. É certo que de dia também o não ouvimos do mesmo modo, mas a noite tem sobre todas as coisas um efeito diferente, que se sente, não se explica. E quando se tenta explicar, mais parece que se afasta mais e mais o que se sente.

Cada palavra que tenta puxar só consegue empurrar mais e mais o sentimento. E mais é pouco para quem, como eu, já sentiu semelhante coisa.

Passa-se que a noite deste mundo foi coisa que o próprio mundo nos presenteou para descanso das nossas almas. E se o mar tem alma, que eu acredito que tem, sofre concerteza.

O descanso do corpo consegue-se a qualquer altura, mas esse não é o verdadeiro descanso. Se a alma não descansa o corpo, seu servo, dobra-se, contorce-se, amua... Azia natural de corpo com alma que não teve a paz que o corpo lhe merece.

Será concerteza sádico da minha parte conseguir tanto sossego com o suave som da tua agonia? Oh mar, que não dormes, acredita que este sadismo não é voluntário! É sim de alguém que te pensou e que se resignou perante a grandiosidade desse movimento que me torna tão inútil e incapaz de aliviar a dor do teu lamento.

Diria que podia ouvir essa melodia (ou agonia, que me custa tanto pensar que o é) durante toda a noite.

Mas, mais tarde ou mais cedo, sei que este prazer me vai levar ao sono. E então perceberei que o prazer não vinha desse som de surdina e falador, mas antes do facto desse som me levar cada vez mais perto do sono.

Do reencontro da minha alma com o sonho suave que só a noite embalada pelas ondas trás.