quarta-feira, novembro 26, 2003

Mentir Com Convicção

Este, que não sou eu, que é apenas parte de mim,
Um dia dedicar-se-á por completo à escrita.
Não sei se vai conseguir mas todos nós sonhamos e essa é, de facto, a melhor parte de nós.
Só espero que atinja esse sonho e espero também que quando deixar de o ser, existam mais sonhos que lhe permitam viver e não apenas existir.
Querer existir noutro sítio que não este, o da verdadeira mentira.
Estar certo que a escrita é garantia de para sempre continuar a sonhar.
Embora ela lhe traga mais dor que alegria, tudo nela o compraze.
Então tenta comprazê-la a ela.
Mas sente que fica sempre a um ou mais passos de distância...
Quanto mais escreve, melhor compreende que apenas se apanham flashes da parte fugidia que nela existe.
Pois ela será sempre livre, indomável e inatingível.
E ele nunca será nada do que ela é, senão a parte dela.

À Nossa Descrição

À descrição, gritei bem alto: “NÃO ME OUÇAM QUE EU SOU DISCRETO”!

E como isto era o normal, o frequente, o usual, o rotineiro, o habitual
Por aqui,
Todos continuaram, sem parar para escutar, ou pensar, o que quer que fosse.
Isto é para nós a discrição.

Anormal, Estranho, Invulgar, Incomum
Maior motivo de espanto
Seria não o fazer.

terça-feira, novembro 25, 2003

Não fomos mas (és)tivemos

- Mas vou mesmo!
Não sei se vai. Diz sempre o mesmo. Por agora lá vai. Mas volta…
Hoje o dia acabou. Não mais vai ser o mesmo. Mas um dia é apenas uma batalha, não é a guerra.
Isto faz rir, como se um velho como eu tivesse ainda guerras para ganhar. Seja como for, este dia já estava um pouco atrasado. E como o povo diz, não este mas o outro que não é daqui, ‘antes tarde do que nunca’.
O sol nasceu há pouco, veio espreitar os berros que Santã, minha querida e jovem mulher, projectou, carregou e deu à luz à velocidade da mesma, ainda há momentos.
Desde que nos casamos que é assim. Rasgos de loucura que surgem de repente, com certeza do mesmo sítio aonde os rasgos de toda a gente se contêm, e põem palavras e sons arrepiantes na mais doce das bocas, no mais lindo ser humano que até hoje conheci, ou não fosse o simples facto de ter casado comigo, e de comigo já viver já lá vão quase seis anos, prová-lo. Médico nenhum sabe do que se trata. Eu acho que sei. Despeja o pouco de mal em si para conservar o bem mais tempo. Mas na verdade não sei. Nem sempre parece ser assim. Ela, quando volta, também diz que não sabe.
Nos dias que correm a cama parece-me um lugar tão solitário como eu. Talvez daí esta solidariedade entre ela e eu. Fazemos companhia um ao outro, e a doença aos dois, ela com o bicho da madeira eu com o bicho da carne que todos os dias me leva mais um pouco do pulmão. Fumar nunca foi problema. Com 72 anos querem o quê? Que viva para sempre?
Filhos, nunca tive. Não que não quisesse mas o médico disse que era pouco provável. Até há data, já lá vão 72 anos desde que o dia o é para mim e continua tão improvável quanto antes. A Santã tem pena, embora nunca mo tenha dito. Mas quando este seu bebé substituto encontrar a noite sempre escura para sempre sei que vai desejar que o seu destino tivesse sido diferente. Depois, eu desapareço, o silêncio deixa de ser parcial e velho e passa a ser total e tão novo quanto estranho, a casa tornar-se-á a sua única companhia e os vizinhos continuarão os outros para ela. Não era assim antes. Só depois do aparecimento dos rasgos. Pode-se dizer que cá por casa só se sente o menor deles. Mas um velho como eu já só apanha metade do que se diz e faz, por isso não sei bem se é assim. Os rasgos, ela condu-los para a rua, ou melhor, estes conduzem-na a ela (que é nisto que eu acredito) e berra a raiva do mundo ao mundo. Com sons do mundo que ninguém percebe mas que toda a gente entende, acrescidos de alguns dos outros que todos percebem mas ninguém quer entender. É ódio, é raiva. É tristeza, a minha. O povo… tem-lhe medo. Culpam-me por ter trazido o diabo para a aldeia. Se ao menos a vissem quando está cá por casa.
Como não fala com ninguém sem ser comigo, ainda que só em momentos especiais, para o povo ela só tem duas faces a do mal e a da indiferença.

Ela vai, mas sempre volta. Antes voltava pouco depois. Hoje passam-se dias, semanas. Resta-me a cama…

Os anos foram passando. Não sei se chegou a voltar. Quero acreditar que sim. Há já algum tempo que a cama também parece ter deixado de ser minha companhia. Agora sinto um peso invulgar. Mas já não sinto dor. Sinto imprecisão e, ao mesmo tempo, não sinto nada. Vou esperar. Sei que há-de voltar.

A verdade é que nunca mais voltou. Nem eu, tal como me conhecia…

quarta-feira, novembro 19, 2003

Belas Asemioses

Expiro signicado-zero
E, no entanto, acenam, sorriem.
Uma porta fecha-se zangada.
Chateada com o barulho, incomodada.
Só ela percebeu que não passava de barulho!
Finco os dentes. Finjo. Não me atrapalho.
A ranhura abre, momentaneamente, a boca de espanto.
Atrapalhadamente, procuro, rapidamente, a chave que, facilmente, a alimente.
E entro...
Trocamos conversas de silêncios, inúmeros segredos.
Com olhares e perplexidade comunicamos.
Finjo. Aceno, sorrio e saio.
Entretanto… O barulho volta.

quarta-feira, novembro 12, 2003

Literatura? Desculpe?!...

Cinco vezes quatro, vinte
Cinco vezes cinco, vinte e cinco

Rapazote
12-11-03



Vai pessoal, digam todos que isto é literatura que, com uma comunidade grande atrás de mim, ninguém poderá negar que sou um "literaturador", e assim negar todo um passado!

P.S. Tributo a todos os pragmáticos do mundo.

‘E o senhor… O que deseja?’

As coisas em que a_gente acredita...

Instintos naturais de (des)conforto

Confortável. Num momento em que tudo existia para mim, a escuridão tornara-se um lugar acolhedor, um lar, um casulo que não pretendia deixar. Não conhecia história nem percepcionava formas, apenas ferviam impulsos que de tão rápidos que eram me transmitiam serenidade, conforto e calma. Por momentos percebi ser o mar certo para pescar. Não fora o frio que se instalou aos pouquinhos ali ao meu lado e nada disto me teria sido dado a perceber. Sem essa outra coisa, que em menos de segundos gelou tudo aquilo que me estava a ser proporcionado, tudo isto me teria passado despercebido, qual rosa em pântano sombrio. No meio do sonho, que não era, sentia um soluçar interminável, uma gota de água que se isolava e cujo volume aumentava e aumentava dentro de mim como se me chamasse, empurrasse e berrasse pela minha ajuda. Agora um desconforto apoderava-se de mim, o que fazia com que lentamente as coisas ganhassem forma e conteúdo e metafísica. Desconfortável. Lentamente abro os olhos só para ver por uns segundos; para explicar à mente como tudo está bem, como posso voltar aquele lugar que só existe quando neste tudo está bem - e estar bem... enfim, é o contrário de estar mal. Mas não estava. Os soluços vinham daqui. A gota de água tornara-se agora inundação. Choravas! Não como nos outros dias em que o fazias. Gemias, soluçavas, bradavas por dentro... Sem saberes muito bem, chamavas por mim. Isto embora soubéssemos os dois como todos os motivos e formas de ultrapassar a dor me eram superiores, ainda mais agora, vindo eu daquele mundo sem forma, que por uns tempos me deu uns poderes e me tirou outros. Acompanhei-te na tua dor. Minha dor agora. Que me corroía e procurava por soluções rápidas, mas não bruscas. Segurei-te e dei-te tudo aquilo que por momentos tive. E quente, e calma e sempre bela... adormeceste.

terça-feira, novembro 11, 2003

"We wish you a make my Christmas and a happy new year"

Que é essa coisa do espírito natalício? Perdão, espírito de consumo!!! Deve ser esse espírito fantástico que, não as ocasiões mas sim as superfícies comerciais, nos transmitem a todos.
Obrigado por existirem!
(bah!)

Simples

Hoje eu querer dizer tudo muito simples. Ontem e em mais outros ontem eu dizer tudo menos simples, tudo mais menos simples. Simples não ser?

sexta-feira, novembro 07, 2003

A Dúvida

A dúvida do sussurro
Está no própria sussurro.

Ela sussurrou-me
'Amo-te!'.

Não tivera sido
A dúvida...

E eu já me teria perdoado
De ter duvidado.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Incompletidão natural...

Era noite. Como todas as outras noites olhava para a mesma parede branca com um pequeno quadro ao meio, quadro esse de moldura tão pequena quanto torta. Mas apenas nestes momentos! Em que as lágrimas são maiores que os globos oculares e me impedem de ver a moldura como ela realmente é.
Como todas as outras noites o som era aterrador. Buscava dentro de mim a explicação. O que poderia eu saber? Com 18 anos sentia-me tão ignorante quanto há vários anos. De facto, desde que me lembro de me lembrar do que quer que seja.
Lá fora os berros eram os mesmos de sempre. Isolava-me no meu castelo... de papel, pois este não conseguia evitar o inimigo nem por terra nem por ar, sendo incapaz perante os estridentes gritos projectados directamente do sítio de onde eles não deviam vir, em direcção à minha cabeça.
Mais uma vez a minha mãe entrava neste estado de semi-loucura que cá por casa todos nós nos habituámos a tratar por ?neura?.
Como sempre esta discutia por motivo nenhum. Por pura insatisfação própria talvez. Seja como for, éramos nós quem sofríamos e ela quem desesperava por uma solução que esperava vir atrás de cada berro, de cada lamento, enfim... Que mais não eram que isso. Em suma: mimo, casamento infeliz, divórcio, pais falecidos e dois filhos para criar.
A cobaia dela hoje foi o Leonardo, meu único irmão, de 22 anos, semi-casado e semi-viúvo. Mas para ele aqueles gritos eram nada perante o facto de a noiva que com ele se preparava casar na semana que agora se segue ter sofrido um acidente de automóvel há dias e, agora, semi-jaz em coma no hospital de Leiria, que, tendo em conta o seu nível de atendimento, mais parece uma casa mortuária, ou semi-mortuária... e que espero não faça agora uso da malfama que a metonímiza.
Saí de casa. Não me interessa a hora.
A minha relação com a Drica, como todos lhe chamamos, nunca foi muito próxima. Se fosse acho que já a teria visitado. Custa-me também a dor física dos outros. Daí ainda não lá ter ido ainda. A dor psicológica parece-me banal. Depois de anos a suportá-la finalmente fui compreendendo que esta não desaparece, segue em nós em todos os momentos. Aprendi a conviver com ela e hoje somos quase parentes. Daí não me faça impressão a dor dos pais da Drica, nem sequer a dor do meu irmão. Sinto-me simplesmente um estrangeiro perante o choro. Não na língua, que a linguagem do choro ficou, juntamente com poucas outras coisas, para lá do desabamento da torre de Babel. Sinto-me assim na atitude, no desprezo pela dor que mais não parece que um ritual sem força para entrar na minha redoma de papel.
A culpa do acidente não foi do outro. Foi mesmo da mãe da Drica, uma vez que a Drica conduz mal e nisto sai, sem dúvida, à mãe. Segundo o que o 'outro' conta, ela apareceu vinda de lado nenhum e acertou-lhe de lado só o percebendo ele quando reparou que o carro estava já voltado, pronto para ir de volta para o sítio de onde nunca deveria ter vindo. Mais pormenores só quando ela voltar do pesasonho; remediável, esperemos nós.
Mesmo tendo já passado a casa da Maria das Cebolas, a voz da minha mãe continua perfeitamente audível. À minha volta as pessoas fingem ser mais surdas do que eu finjo ser. Mudas concerteza não serão quando a minha frente se metamorfosear na minhas costas, por artes mágicas que só quem tem pernas para andar, e vergonha para pensar, consegue compreender.
Trago na mão o manual de como domesticar o seu cão. Procurei o outro relativo às mães. Não encontrei. Contentei-me com este. Apesar de já muito dobrado ainda não o li. As imagens parecem-me aborrecidas. Imagino que as letras aí riscadas em séries capitalistas de maços de 16 páginas não sejam melhores. Nem quero saber. Às vezes quero. Não sei...
Tendo chegado ao hospital tudo era como previra. A mãe da Drica joga-se a mim a chorar, como que para compensar a falta que a cama lhe fez durante a noite, não fosse a vizinha dizer alguma coisa; e a falta de lenço, sabe-se lá porquê. Talvez a minha camisa lhe tenha parecido mais adequada.
Em silêncio olhei em volta. Tectos brancos, lençóis brancos... tudo embutido na pálida cara da semi-noiva, que pelo aspecto não dava bem a ver se as paredes e os lençóis chegaram antes dela, se depois, isto porque a mãe da Drica é daquelas que gosta de ver tudo a condizer.
Não fiz perguntas. Sei que não sabiam mais do que eu.
-Adeus.
Saí.
Fugira do barulho em casa. Mas este silêncio era bem pior. Este nunca fizera parte do meu mundo. Para mais, era um silêncio novo, desconhecido. Não doentio. Simplesmente desolado. Ao que eu não estava acostumado.
Não soubesse eu que o meu irmão estava a discutir – discutir, como quem diz... pois este só ouve, pouco fala - e ter-me-ia admirado de o não ter visto ali dando as mãos esperançadas à semi-noiva e repetido pela milésima vez à semi-sogra, como tudo isto era inacreditável, como poderia tudo isto ter acontecido logo agora e como o 'outro' deveria estar a esconder alguma coisa.
Testemunhas só mesmo a inconsciência de dois, pois mais ali não haviam, e estas não contam, muito menos se uma dessas inconsciências tiver reduzida a metade, ou a metade disso ainda, e se a outra, ou o 'outro' – que dessa não faz parte, for inocente, pelo menos até que as partes todas da Drica, que por natureza nunca foi bem inteira de si própria, se juntem de novo e mintam ou desmintam disto mesmo?

terça-feira, novembro 04, 2003

Existência? Aqui? Ali? Onde? Qual?

Eu sou uma personagem de papel.
Não a que vês mas a que lês.
Não sou pessoa. Só personagem.
Sou o que te faz rir, chorar, viver,
Aqui!
Porque eu não sou assim; nem assado,
Não sou nada. Sou tudo!
Tudo o que não vês,
Tudo o que não imaginas,
Sou o espontâneo, o natural, a matéria,
O que, simplesmente, não existe.
A palavra tudo diz (mas nada é).
Sem ela o tempo passa e nada resta. Nada fica.
Mas eu nem na palavra caibo.
Eu simplesmente não sou. Não serei! Nunca!
Nem aqui. Nem fora daqui onde sou... o normal...
Normal é ser cinzento
Que se mistura no resto,
Que faz parte dele, está nele
E, quase sempre,
É ele.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Complot

Tristeza visceral!
Capacidade neuronal
Que se dilui
Na própria memória daquilo que cria.
Questão permanente se devia ou não devia...
E, entretanto, o mistério se destrói.
Por força do mal,
Provocada por aquela coisa visceral.