quinta-feira, agosto 26, 2004

Dá vida... E morte!

Recordo com endividada tristeza
A devida beleza que é a tua
E que me fez bem.

Abalaste os sentidos da vida;
Abalaste, abalaste
E não voltaste mais.

E recordo cada momento, cada dia,
Esta nova melancolia
Que não te afasta daqui.

E sofro o momento,
Do acordar ao cessar,
Daquele sentimento...

Dessa chave que não chega jamais,
Para calar a memória,
Tão presente, das dores imortais.

Tu Musa

Oh musa que rompes efusivamente na minha efusão
E ferves o meu tempero sem nos queimar,
És tu que me alimentas, até que a temperatura faça escoar
A seiva transbordante da nossa paixão

segunda-feira, agosto 09, 2004

A Complexa Divisão da Multiplicidade

Quadrado ser do meu quarto
Porque não és tu só meio -
Como sabes que deverias ser -
E assim, ao ser menos, serias mais

Portas fechadas… Janelas Trancadas

Abandonado de lar,
Não o sitio onde vivi
Mas o sítio que viveu em mim,

Esvaziado de ser
Passei a fronteira do querer
E rendi-me à auto-absolvição.

Inconscientemente consciente
Fiz simplicidade do impossível
E pereci na possibilidade
De Ser feliz… Só, na tentativa

segunda-feira, junho 21, 2004

A Desilusão da Percepção das Coisas

Cedo cedo às pressões do mundo e afasto-me das raízes.
Quando em quando lá (re)volto àquelas discussões constantes e sem ressentimentos,
Àqueles atritos originais e contudo tão banais,
Comprimidos difíceis de digerir mas que lá curam os meus males

Mas as origens só por si já não me chegam.
Para o outro chegavam. Sobravam...
Qualidade de vida era génese.

Hoje pseudo-genesético, fruto de amálgama que o tempo unificou
Não sou mais. A unidade que o passado iludia lá ficou.
O hoje... Desilusão...
Hoje não é nunca, senão no tempo da ilusão... Que já perdi.

sexta-feira, junho 11, 2004

Um repto simples. Uma resposta complicada.

Hoje,
Bimbo, Bazaroco, Tanso, Albino, Barrajolo,
Comprei uma bandeira
E pus a esperança à varanda

sexta-feira, junho 04, 2004

Fragmentos da Desfragmentação

Tu que só existes no lugar de mim a que ninguém chega diz-me: o que é que eu estou à espera de esperar de esperar de ti?

O Lamento do Hipócrita

És a minha coisa que dura
E mole e mole
Por muito tempo,
És a dureza que me atura
E eu amo
Sem lamento…

Beleza da Natureza

Em consideração pela tua pele
Brancas são as noites que não passam a pensar em ti

E o negro forte do céu é o dos teus cabelos
Que o desejo faz deslizar entre os meus dedos

A Razão Complicada Dos Simples

Não me custa a morte.
Custa-me deixar de viver.

Nacionalidade ao Cérebro

Li Portugal como se o tivesse escrito
Com muito amor e igual sentido crítico
Hoje, desanimado, insultado, desarmado de ser
Sou estrangeiro que já não quer saber

O Saber dos Sentidos

Amor, meu professor,
A tua luz é o sol que irradia o nosso conhecimento!

Alegria Fugidia

Um sorriso resplandecente surge do meio da bruma
O escuro fica mais escuro e assim mais belo
Por muito provável que a alegria venha e rapidamente suma
Aproveito o sol que a lua reflecte no nosso castelo

Sinais de Deus

O tempo trai-me. O meu inconsciente é seu aliado.
Rejeito todos os sinais. Rejeito ser renovadamente
Rejeito ser parte ou a soma das mesmas de qualquer fado
Só afirmo a rejeição, do corpo e da mente

Livro...

Livro publicado é hérnia de dor querida que se corta para dar ao mundo

Interior, Que Não Te Vejo

Eu, múltiplo, que o tempo diversifica e transforma,
Abro-te o meu interior para que possas nele ver o exterior
E te apercebas dessa primeira impossibilidade

quarta-feira, maio 05, 2004

A Escrita

Esta transforma os meus pensamentos
É ela a culpada de todos os meus males
Expõe pessoalmente os seus argumentos
Mas não chega a dizer nada destes momentos

Que fazem de mim um instrumento seu,
Tal como o amor me o faz costantemente
Fim ao sentimento e pensamento meu
Fim à vida. Fim ao céu.

Morto-vivo cedo à masturbação mental,
Ao processo descontextualizante
Que pouco tem de pessoal
E só me traz recompensa agonizante

terça-feira, abril 27, 2004

Sol Nascente, O Prisioneiro

Penetrado por uma
Criatividade que não pensa,
Choro estas palavras
Rio estes versos

quinta-feira, abril 08, 2004

Noite De Mar

Durante as noites em que as ondas batem mais compassadas, ao ritmo do sono que não chega, este som a natureza torna-se a minha única companhia.

Já este mar de encantos, nunca se queixa de não dormir. Isto julgo eu...

Pois é bem possível que este som seja apenas o seu constante lamento por não poder dormir. Não poder repousar.

Pudesse eu perceber a linguagem do mar e nada mais faria, amigo meu - que tiraste uns minutos do teu tempo para me ler, que contar-te tudo, de tudo o que ele me diz. Suas divagações, seus caprichos, suas dores, seus sentimentos...

Porque mar que fala sente concerteza, senão para que quereria ele falar?!

De dia o mar não canta do mesmo modo. É certo que de dia também o não ouvimos do mesmo modo, mas a noite tem sobre todas as coisas um efeito diferente, que se sente, não se explica. E quando se tenta explicar, mais parece que se afasta mais e mais o que se sente.

Cada palavra que tenta puxar só consegue empurrar mais e mais o sentimento. E mais é pouco para quem, como eu, já sentiu semelhante coisa.

Passa-se que a noite deste mundo foi coisa que o próprio mundo nos presenteou para descanso das nossas almas. E se o mar tem alma, que eu acredito que tem, sofre concerteza.

O descanso do corpo consegue-se a qualquer altura, mas esse não é o verdadeiro descanso. Se a alma não descansa o corpo, seu servo, dobra-se, contorce-se, amua... Azia natural de corpo com alma que não teve a paz que o corpo lhe merece.

Será concerteza sádico da minha parte conseguir tanto sossego com o suave som da tua agonia? Oh mar, que não dormes, acredita que este sadismo não é voluntário! É sim de alguém que te pensou e que se resignou perante a grandiosidade desse movimento que me torna tão inútil e incapaz de aliviar a dor do teu lamento.

Diria que podia ouvir essa melodia (ou agonia, que me custa tanto pensar que o é) durante toda a noite.

Mas, mais tarde ou mais cedo, sei que este prazer me vai levar ao sono. E então perceberei que o prazer não vinha desse som de surdina e falador, mas antes do facto desse som me levar cada vez mais perto do sono.

Do reencontro da minha alma com o sonho suave que só a noite embalada pelas ondas trás.

quarta-feira, março 31, 2004

Antecipação, Repleta De Emptidão

Correm-me pensamentos pelas veias,
Pensado é o meu corpo todo.
Os outros textos, as minhas teias
E eu imóvel na mobilidade de tudo.

Não sinto as palavras que escrevo.
Formato digital. O presente natural
Escorrega pelo inconsciente determinado,
Munido de intencionalidade parcial

O automático não se pertence a si,
Não tem ser donde partir.
E eu só pertenço ao automático
Menos ser que eu,

menos EU, menos EU

sábado, março 27, 2004

Musa Lusa

Vermelhaste a face de todos em redor
Bela, insinuada, descarada, sem pudor
Uns riam, outros sorriam, todos te viam
Musa lusa, brilho incandescente. Isso, riam…

domingo, março 21, 2004

Ditos Populares – Sujeitos Impopulares

Já lá dizia a velha das Viagens de A., que quando não se trabalha, trabalha alguma coisa em nós que nos cansa ainda mais.

Aqui digo eu, que quando o espírito não nos toca falece qualquer coisa em nós, a que comummente chamamos vontade.

Daí a nossa vida de cansaço. De permanente irritação. Que a ociosidade não compreende. Pois isto nada lhe diz.

terça-feira, março 16, 2004

Vida Na Bruma Será Vida?

'O ser de ter
é o querer ser
e não querer'




- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOO!!!!!!

- NÃAÃÃÃÃÃÃAOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!

Gritava! Brandava! Corriam-lhe as últimas lágrimas duma vida seca. Abriam-se fendas que nada mais poderia fechar. Nada?Ninguém!

- Só quero o meu filho! O MEU FIIIIIIILHO!!!

E em segundos, num espaço sem tempo, a matéria diluiu-se em vazio. Em nada. E a esperança tornou-se o gigante que tudo poderia concretizar. Se quizesse?

- Eu abro mão de tudo meu Deus. Dá-me o meu filho? Salva-o? Eu dou tudo o que tenho. Eu ajudarei os outros. Mas O MEU FIIIILHO!!! DEUUUUUSSSS!!!

Em volta, as pessoas olhavam um homem estranho. Louco decerto. Possivelmente até, um homicida, não fosse ele ser estrangeiro na sua aparência. E nos tempos que correm, seria, muito naturalmente um terrorista. Aqueles polícias ali à volta, lá estariam por algum motivo! E aqueles gritos de horror... Arrependimento de certezinha absoluta!

Ah, mentes pequenas. Xenofobia atroz.

Entretanto as sirenes chegavam, o mundo todo buzinava. Em momentos, toda aquela rua era vermelha e azul. Todo o movimento se dava ao passo de compassos agudos. Sirenes, essas sim do horror? E contudo, a réstia, a esperança de salvação.

No chão o vermelho - fogo, tiro, queda - escurecia. Em seu lugar aparecia o negro.

A loucura espreitava o seu momento para aparecer em palco. Que excitação! O seu instinto dava-lhe certezas que nenhuma probabilidade àquele pai podia oferecer.

O vazio completo passou por aqueles momentos de espera. A batina branca? ou verde?!... que o diga a loucura, ela saberá seguramente!, trouxe a notícia esperada.


(?)


Na paz dos últimos dias, o suicídio chegou. Não como necessidade! Antes, como... naturalidade.

sexta-feira, março 05, 2004

Incontornável Lei da Não Presença

Que fique. Não...

Não fique!

Não sei...

Olha para mim...

Molha aqui a tua mão.

Vês...

É este o efeito da solidão

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Futuro Sempre Insuficiente

Dia nenhum é suficientemente grande para eu fazer aquilo que não me apetece fazer

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Sinónimos Quase Perfeitos

Junta-se uma letra,
Ainda que não letrada,
Numa outra, também ela só falada,
E cria-se a família Palavra

Os sons tornam-se vozes
Ganham corpo. Amalgama
Das suas várias partes
Especialmente cuidadas como poema

E então começa-se a escrever
Ou simplesmente a falar,
Para expressar sentimentos. Para comunicar…
Para que o que nunca será, venha a ser.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Para Quê?

Para quê tentar sentido,
Quando ele próprio anda perdido
Nas teias que ele próprio traça
Na procura de si mesmo?

Para quê fomentar o desejo,
Quando ele próprio nada quer,
Senão levar a pensar que o que vejo
É que causa a felicidade do ser?

Deixar-me estar aqui achado,
Permanecentemente no meio de tudo
E ao escrever, recusar ser mudo
Ao indecifrável movimento do mundo.

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Verdade, Verdadinha! Ou eu não me chame...

X – Então, vamos lá descobrir a verdade?!
Y – Embora!
X – Mas só a absoluta!
Y – Claro! Senão não é a verdade!
X – Fotografaste-o?
Y – Sim, foi simples!
X – Olha lá para isto comigo, então.
Y – Está bem.
X – Então, mas isto não é a verdade!
Y – Não?!
X – Pois claro que não! Aqui não está o que veio antes, nem o que vem depois. E, para mais, só mostra uma das faces daquilo; e de uma só perspectiva, diga-se. Já para não ir mais longe e dizer que no processo da foto, ela primeiro estava ao contrário e só depois é que foi para o direito!
Y – Mas olha, o Z também gravou isto em VHS, queres ver?
X – Yeah, isso de certeza que resolve a questão!
Y – Vês, aqui está! O antes e o depois! Bem focado e tudo! E filmou-o todo à volta.
X – O quê?! Achas? Aqui só vejo um bocadinho do antes e do depois! E quando ele anda à volta deixa-se de ver o que está do outro lado!
Y – Ishhhh, pois é! Olha, vamos falar com o N. Dizem que os artistas são os melhores na procura da plenitude. E ele é um artista, oh diz lá a verdade?!
X – Eh… Oh, referes-te ao quadro do N. Eu também gosto do N mas temos que dizer a verdade, o objecto aqui é a cara dele!
Y – Eu não acho!
X – Pois também ele não devia ter achado, porque isso de achar é que o fez fazer isto! Alcançar a verdade equivale a olhar para ela sem filtros no meio, percebes? E já viste as cores? O que é que é aquilo?
Y – Devia ser de noite!
X – Oh, mas de noite ou de dia aquilo não é o mesmo?
Y – Pois… Devia ser… Mas olha lá, o que é que é aquilo para ti afinal?
X – Então… É aquilo não estás a ver?
Y – Estou mas...
X – Ah, já estou a ver. Olha aquilo é a,q,u,i,l,o. Está melhor?
Y – Ah, sim já estou a perceber! Então, mas se eu só ainda tivesse 6 meses e não conseguisse falar, aquilo não era o mesmo?
X – Era, era. Tu é que não!
Y – Hum. Eu nem devia dizer isto, mas… Sabes, no outro dia levei-o para casa e andei às voltas com ele. Abstraí-me de mim mesmo e mexi-lhe. Mexi-lhe mesmo! Olhei-o, cheirei o seu perfume, senti-lhe o gosto. Ouvi-o, percebes! Acho que consegui sê-lo!
X – É isso! Isso é que é a verdade! Já sabias afinal! Então diz lá como é que foi?
Y - Eh pá, não me lembro bem. E o que sei não consigo explicar…
X – Oh… Deixa para lá. Mesmo que te lembrasses, já foi no outro dia. E sabes bem que a memória não é. Parece! É como a fotografia de um quadro que caiu na lama e que, embora às vezes se suje mais que noutras, todos os dias está um bocadinho mais estragada. É a outra luz de nós. Pena só brilhar com força às vezes!
Y – Que chatice! Isto afinal não é assim tão fácil.
X – E temos sorte que aquilo está quieto, senão já estás a ver!
Y – Pois estou, estou! E já viste se aquilo pensasse?
X- Ah, ah, ah. O mais certo era estar agora a olhar aqui para nós, para saber, na verdade, o que estamos para aqui a fazer.
Y – Olha, verdadeiramente, mesmo que quisesse também não te sabia dizer.
X – Deixa lá isso. Vamos a mais um copo?
Y – Mais ainda? Heia!
X – Vá, desta vez pago eu.
Y – Vá. Vamos lá ter com N e com o Z, então.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Felizmente Ó Luar

Descalço os sapatos, que de tão molhados e enroscados parecem sofrer de cirrose, e reencontro o conforto. A lareira, que quando cheguei já rejubilava, solta flamas saltitantes que, fixadas, me observam e rodeiam, para meu aconchego. Em Israel chove igualmente. Bombas que nenhuma lareira consegue secar. Pelo menos é o que diz o homem da caixinha ao fundo. Ele é que sabe! Perguntem a quem quiserem. Entretanto a porta bate. Os músculos, doridos e adormecidos, fazem grande esforço na direcção da gravidade e impedem de me levantar. Entras, e sem um beijo, nem um lamento, descalças-me as meias e descolas-me as calças e a camisa. Então sim, beijas-me. Imaginava-me, igualmente, a desconstruir as tuas vestes molhadas. Mesmo que o quisesse, os músculos tinham-me presos a um cadeirão, que só agora reparei estar aqui, e a lareira havia conspirado contra mim, enganando-me através de movimentos animados, fazendo com que os olhos, os incessantes conhecedores de tudo, entrassem agora, lentamente, no desconhecido. E, sem querer saber bem porquê, sentia-me bem.

Passeio de domingo... Há sexta

Hoje vim aqui só para ver se isto ainda existe. Há tanto tempo que não mexem neste blog que até pensava que ele já tinha ido ao ar... Lá com pó está ele. Mas ainda existe!
Vá lá...

A Felicidade do Momento Regresso

Faltava aquilo que faltava a toda a gente.
Faltava o amor que a gente sente.
Faltava esse grito.

Tudo voltou quando regressaste.
Mas agora, o amanhã, o depois de amanhã
E o dia que depois desse há-de vir,
Acabarão por reduzir tudo isto a pouco
Muito pouco.

Deixa-me assim aproveitar
Este momento de consciência,
Não vá ele desaparecer...
Só por eu fechar os olhos.