sexta-feira, dezembro 07, 2007

A Seca do Suor

É grave e constante o cinzento
De cimento e ferro que alicerça
Os nossos dias

Momentos para os outros
No fundo para nós, dizemos...
E cada vez mais longe, cada vez mais sós
Cada vez mais menos

Lá fora, o mundo espreita impávido
Expressão triste, de incredibilidade e gozo,
Seres imasculados, sem fronte nem lado.

Grávido com a dor do mundo
Vazio de potencial
Empurro mais um dia, menos um mal

E tudo tão verdade,
tão desilusão
tão repetição

Nada ideal.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Mão

Uma mão é a cabeça do corpo todo
Sentimento, razão e poesia
Chuva de Primavera, Outono de fogo
Mão que se escreve, mundo que se cria

É valor potencial
Que sustém toda uma vida
Calejada e por vezes ferida
Mas sempre mão, sempre igual

Agarras os meus medos
Serves de encosto ao meu descanso
Defendes-me desses enredos
Que em tantas vezes me lanço

Sempre comigo, sempre prestável
Dás-me paz, apontas-me o prazer
Ajudas o mundo a acontecer.
E o coração bate mais estável

quinta-feira, setembro 06, 2007

Rasgar o Mar Para Navegar

Os dias demoram-se repetidamente sem sabor
A infrutuosidade dos dias…

Sonhos adormecidos, não me estremecem
Promessas adiadas,
Acumuladas numa caixa cada vez mais funda,
Juntamente com desejos e intenções vãs

Desespero, cansado, que as palavras humedeçam
As nuvens desvaneçam
Se revele o sol desse sonho adormecido

E sinto vontade de navegar nessas tuas lágrimas curvas
Escondidas por esse sonho
Onde ainda hei-de ser caravela

Mas... Temo a pergunta: ‘Porque me amas?’

Nenhum alimento, nenhum instrumento
Nenhum argumento…
Lembrei de trazer para te responder

Por Seres Tu e Assim Eu Ser Mais Eu Nos Nossos Nós
Desde Quando Os Teus Olhos Rasgam e Abrem os Nossos Dias
Até Anoitecerem a Nossa Ânsia de Sonhar Juntos?

Certo será, quando acordarmos deste sonho,
ainda havemos de sonhar!

Ao teu lado tudo é possível

sexta-feira, julho 27, 2007

DesAgosto Que Me Mostras

Desejo para mim, como nunca antes desejara
Confundir-me com as imagens do prosaico,
Diluir-me na transparência,
Prática, morta dos objectos sem uso

Evito sequer ser pó, que atraia qualquer olhar
Qualquer desejo de mudança.
Atrai-me o escuro da sombra,
O canto esquecido do sol, a transparência do natural

Os múltiplos sons do silêncio
O latejar do pensamento...
Que magoa e fere no estender dos dias
Sem fim,

Sem diferença. Resto ser igual...
Nem assim encontrar suficiente semelhança
Que me permita ser esquecido
Como sou pelo ideal

sexta-feira, julho 13, 2007

Hipnose da Descoberta

Alongou-se, na despedida, numa conversa quente
Apanhado de surpresa quando os seus olhos lhe gritaram: Acha-me!

Descansando-os fascinadamente sobre si
Demorou o seu olhar
Tanto quanto os limite do aceitável permitiram

Por dentro, um turbilhão - misto de ansiedade e agitação -
Faziam gaguejar e tiravam o sentido a palavras
Antes macias, deslizantes, arrebatadoras…

Sentia em si a infância
A frescura num olhar
Já tão cansado e cheio de tudo

Em redor vislumbravam-se, cada vez mais ténues,
Ecos e sombras.
Contra-luz, contra-voz…

Contra o desejável,
Hipnotizante,
Epicentro de um novo mundo

quinta-feira, maio 03, 2007

Distracção Anosa, Discuido Danoso

Numa pequena distracção

O Outono cinzento adulto em sociedade
Levou-me a felicidade

Sinto esvair-se-me a naturalidade
Corre mais rápida do que eu
A horizontal espontaneidade

O génio simples, o despropositado
Tão bons e tão maus nos seus momentos
Os sentimentos violentos,
O rude sem querer...

Rasgado, fissura na ruptura,
Vazio por preencher
Alguém novo para conhecer
Um desejar,
Um querer... Um dizer...
Um novo Ser

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Memórias de papel

Rasgado o mundo em dois
Quebrado, suplantado, dorido
Margens inteiras se dobram para me apanhar

Choro o céu daquele lugar,
De onde apenas se desliza para o vazio
Descabelo-me contra a minha própria fraqueza
Das gerações que não choro... Que não rio...

O verde, a maresia, o teu toque de veludo
Memórias vãs de um ser no abismo
Intensidade, querer, heroísmo
Desejo incapaz, mas querido, do ser sisudo

Ah... Não quero mais que isso!
Um reflexo na superfície desse oceano
Uma esperança de início, para o vício,
Um olhar, um som, uma corrente que me vá levando

Para aquele lugar do qual nunca saí
Ao qual nunca irei voltar

Frio Dolor

Existe um frio lá fora
Que me gela a alma.
Um frio subtil, um frio de calma
Veneração Outonal que o Inverno namora

Queria eu também um frio assim...
Não aquele que tenho, que dá cabo de mim.
Limpo e honesto, sonoro
Gélido no seu sentir com que acordo

Queria-o antes adormecedor
Já despercebido na sua constante latência,
Não acompanhado desta pequena demência
De chamar frio ao amor