segunda-feira, dezembro 19, 2005

Beata Heresia

Tenho a fé do passado
Na inexistência da fé presente
No presente
Para o presente...
A fé, sempre ausente, das almas que,
Como eu, vagam insatisfeitas
Ainda que na segurança da verdade,
Tão absoluta quanto ilusória, da modernidade

sexta-feira, setembro 09, 2005

Roda António

Roda que mordes essa outra no cú
Num movimento tecnofágico
Persistente e repetido

Fazes soltar um gemido
No operário, antes mágico,
Quase já tão maquinal quanto tu.

E a magia se derrama, espalha e perde
Em mil pedaços que ele não consegue reunir
E só resta em ti essa sede
De infância. De embrião. De dormir.

Inútil

Sinto em mim a futilidade
O desinteresse, a passividade e a frieza
Sinónimos claros de um só fim
Um corpo que segue para longe de mim

A masturbação Mental do Eterno Insatisfeito

Preciso de um não-sei-quê de não-sei-quanto, não sei que mais,
Duma daquelas maneiras tais,
Para poder, por fim, dizer que estou bem; e que
Não preciso de mais sei-lá-o-quê que, sei eu,
Irei, na mesma, sempre buscar
Como se nada existisse já em seu lugar.

Querer Mais Do Tal Não-Querer

Quero acabar tudo contigo!!!
Quero a separação!

Quero a independência
Quero a satisfação!

Quero a diferença

Quero o amor
Quero o reconhecimento
Quero o entendimento
Quero a confiança

Mas... Quero também...

Quero o sorriso
Quero aquele amanhecer
Quero esse toque e esse beijo
Quero... Esta dependência

Quero... Quero...
Quero que me perdoes...

Quero que, por piedade que seja,
Me aceites de novo. Que esqueças que sequer...

Ainda que nunca me tenhas deixado

quinta-feira, julho 21, 2005

Viver, em 5 minutos

Em cinco minutos
Uma chuva seca roubou o lugar ao sol
Só para que ele pudesse lembrar como brilhou
Em cinco minutos
Os pássaros renasceram
As árvores floresceram
As terras reviveram...
E eu deixei-me afogar
Em tanta beleza

Apelo-te Que Me Apeles Apelo

Mas para onde foste tu apelo meu?

Inspiração divina que guiava os meus automatismos

Força corpórea que forçava os meus mecanismos

Coisa incerta que empurrava os meus tropeços de ânimo...

E que tornava razão, o banal

Aquele aparente natural

A Salvação

Bela,

Açúcar e sal de uma vida sem sabor
Dor segura e fria, revestida de suor frio
Cala esta coisa... Este desespero... Dor...
Impede os meus passos sonâmbulos para o vazio

O apelo do ocioso

Só hoje... Só hoje consegui vê-lo

Tão tarde descobri a génese da tristeza e da permanente insatisfação

Dias inteiros sem chamamento, sem motor de arranque, sem paixão

Sem apelo...

domingo, janeiro 23, 2005

Próxima e Infinitamente Distante

Eu amo alguém
Que foge
Da Saudade que corre
Dentro de mim

Um sentimento agudo de dor,
De querer,
De desejo,
De vazio.

Alguém fugidio.
Alguém como eu…

Ninguém

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Frio Racional do Amor

Passo ao lado desse rio
Afluente do teu olhar
E choro a água nesse frio,
Frio de rio. Frio de te amar

Alienado

Foi certo aquilo que disse,
Foi-o sim para mim.
Ainda que fosse apenas mito,
Ainda que não visse em si um fim,
Ainda que o não tenha dito…

Foi certo aquilo que disse

Espelho Quebrado, Escurecido

Completo, Complexo, estação final de nossas vidas
Esgotadas que estão as folhas que flutuam
Rasgos de saudade, receios, lágrimas perdidas
Das nossas vidas, nossas queridas vidas

Mais um sol, mais vozes, mais sonhos que nos inundam
Lavam a alma naquele vai e vem fugidio
Sem lamentos, porém, que remoam e doam
Às nossas vidas, nossas queridas vidas

Solta um grito, solta a palpitação. Rasgam o frio,
Memórias num sorriso fechado, de um corpo parado,
E uma mente electrizante nos sucessos de outrora. E rio
Das nossas vidas, nossas queridas vidas

Um quarto enfezado para nascer, apodrecer, morrer. O fado…
Uma neblina a quem revelo os meus segredos
Uma ponte para o vazio para onde nado
E dou fim à vida, às nossas queridas vidas

Movimento

Um movimento só,
Acompanhado de um maior desejo de se movimentar,
Sonha, imagina, quer
E chega a qualquer lugar

Um movimento só
Capaz de, recorrendo a si,
Estar aqui, estar aí, estar ali, estar acolá

Um movimento só,
Ainda que para sempre parado,
Faz o mundo existir
E dá-me paz para dormir