sexta-feira, março 26, 2010

"Mais para todos", menos para mim. E para ti?

O EUA é um país que se orgulha das suas políticas liberais e menos interventivas. Segundo estes, só assim as empresas têm a liberdade necessária para crescer. Porque será isso importante?

De facto, o motivo está em as empresas neste país serem o pretexto para garantir o bem-estar de cada cidadão e não ser o bem-estar de cada cidadão o princípio que orienta as políticas deste país.

Porém, a partir do momento em que as empresas começaram a esbarrar umas nas outras, tornou-se necessário criar mais regras para o mercado. Para além disso, o próprio cidadão exige para si direitos que, por um voto continuar a valer um voto, levam também a que se alterem políticas e regras.

Acontece que essas mesmas regras, que é suposto protegerem cidadãos e empresas (sobretudo umas das outras), são postas em causa quando num país que orienta as suas medidas políticas com base nos interesses corporativos passa a ser regido por meia dúzia de glutões que monopolizam o mercado em todos os sectores de actividade, desde a tecnologia aos cuidados básicos de saúde, desde a alimentação às farmacêuticas, desde a educação ao sector da banca... e acabam com a mesma concorrência que é suposto, através de si própria, ajudar a regular o mercado.

As empresas orgulham-se hoje de ser geridas de uma forma em que existe o mínimo de desperdício e o máximo de aproveitamento (leia-se lucro). Deixaram de ser os princípios de responsabilidade social que governam as práticas das empresas - aliás, são essas empresas que governam as práticas dos países, quando uma nação assenta as suas bases verdadeiras (não as teóricas, necessariamente) neste tipo de filosofia. Qualquer empresa, nos dias que correm, pensa para si mesma como pode atingir os seus fins de máxima rentabilidade, independentemente da estratégia usada (produto, preço, promoção, lugar; influência social, política, tecnológica, económica ou qualquer outra forma que possa surgir). Como jogar com os condicionalismos existentes da forma mais profícua possível?

Num país cujos paradigmas sociais são essencialmente económicos, tal não é de estranhar. Contudo, é necessário perguntar quando é que tal começa a falhar? Eu diria: sobretudo quando o regulador que garante a eficiência deste sistema político passa a ser controlado pela meia dúzia de glutões que o monopoliza. Então, as regras passam a ser definidas pelos próprios e o país corre de acordo com a sua vontade. E quando o país toma conta do mundo, é, assim, todo o mundo que é sujeito a estas vontades.

Mas, porque um voto ainda é um voto e porque as empresas continuam a pensar para si mesmas como podem atingir os seus fins de máxima rentabilidade, independentemente da estratégia usada, torna-se também imperativo jogar com a opinião pública. Como? Controlando os media, intervindo nos blogs e redes sociais, aperfeiçoando as técnicas de aliciação, corrompendo e limitando os poderes do povo através de leis sucessivas nesse sentido, limitando as opções e fornecendo as únicas que possam existir.

E tudo isto para quê? Sobreviver? - não seria preciso tanto esforço. Dinheiro? - e quando esse deixa de ser necessário? Poder sobre os outros? - de onde virá um desejo que nunca consegue ser colmado completamente? Competitividade/prazer de ganhar? - e quando já se é o melhor, ou o maior, o que se pode atingir mais?

O que dizer de um país que é ensinado e que ensina que a felicidade está apenas na junção destes três factores: dinheiro, poder e vitória? E quem devemos culpar? São estes desejos recentes? Não são eles a réplica de qualquer império existente no passado? Não são estes apenas os imperadores dos nossos dias?

Convencemo-nos que, apesar das diferentes políticas mundiais, esta é a única forma de sobreviver nos dias de hoje. Para podermos continuar a gozar dos pequenos luxos que possamos ter (sê-lo-ão?). Enquanto essa promessa continua, a diferença entre os que tudo têm e os que nada têm aumenta, as pessoas sofrem, o ambiente sofre, a tensão geral aumenta e o tal "bem-estar comum" adia-se. Até quando?

Quanto teremos recuado nos últimos 100 anos? Quanto teremos avançado? O que entendemos por avançar, nos dias que correm? Melhorar? Ser mais feliz? Encontrar mais bem geral? Gente mais gorda? Mais rica? Mais bonita? Melhor falante...?

Perguntemos por aí: estás bem? Por dentro e por fora? No corpo e na mente? És feliz?

quarta-feira, março 24, 2010

Os Irónicos Segredos da Experiência

Choro, por não lembrar os momentos que sinto
Mas que sei que tive

A sensação de instinto faz-me mais dor
Do que o completo e total desconhecimento

Preferia não sentir, ser máquina sem misteriómetro
Sem traços de passado, sem desejo

Preferia não ser
A estar assim sem saber

Porque choro, porque quero, porque faço
Porque passo por aquilo que passo

E tudo me parecer estranho e familiar ao mesmo tempo
E tudo criar em mim saudade