terça-feira, junho 29, 2021

A MINHA OUTRA PELE

E enquanto cheirava a sua pele, 

Suspirava 

Como se ela não fosse sua para cheirar

Só parte 

E, no entanto, desejava-a, buscava-a

Incessantemente

Com ela sonhava, com as mãos da mente 

Sofria 

Lutava contra si mesmo, para não lhe tocar 

Rezava

Para que essa mesma pele tudo cobrisse 

Juntasse

Mas a pele que há em mim 

Nervosa 

E a pele que há em ti 

Sedutora, suave, bem-cheirosa

Têm momentos próprios 

Diferentes 

Próximos, distantes, indiferentes, por vezes 

Mas familiares

Pele nua, pele crua, que sofre, sente, mostra, esconde, acende, persiste 

Um dia de cada vez 

E sempre desejável, sempre insaciavelmente bela, sempre 

Assim.

quarta-feira, junho 23, 2021

Um novo ser, uma nova oportunidade

O meu coração parou

Fruto de anos de desatenção 

Choque máximo me despertou

Para a possibilidade de redenção 


Cicatrizes ficarão 

Só para lembrar as minhas falhas 

A maior de sempre essa lição 

Já nada é certo nestas malhas


Meio abalado, recupero 

A respiração pára ainda, de vez em quando 

Positivo e negativo me tempero 

Esperanças sãs me vão mantendo 


Sem controlo, sem mando 

Nas dores, medos que não quero 

Um parto natural nos vai tomando 

É vida nova neste mundo efémero


Que nasça, cresça, atinja o seu potencial 

Que saia aos pais e seja única ao mesmo tempo 

Do tentar não surgirá mal 

Crescer bem, crescer sem medo 


Brinca, bebé.

Que orgulho em ti.


Sê feliz, sê assim

Simples, em tudo teu 


Por ti e por mim

Faz o teu Eu


Em tudo teu, em tudo teu





sexta-feira, junho 18, 2021

Os nós das sombras

Entre as sombras quentes

As frias espiam-nos

Buscam o nosso calor


Pena nos dá de quem o não tem

Cedemos, cedemos a quem vem

E calor já não há, nem bem


Aos poucos a memória dele também

Foge como areia fina entre os dedos

E ainda que o movimento saiba bem

No fim, nada se tem.


Essas sombras frias entre nós

São agora os nós que nos mantêm

Juntos parecemos sempre sós 

Nas frias agora somos nós



sábado, junho 01, 2019

Parte de mim (Parte de ti)

Parte de mim

Parei num tempo passado
Que guiava todos os meus passos
No tempo das coisas simples

Em troca dos movimentos circulares.
Apesar de gratificantes por vezes,
Nas pequenas trocas das suas voltas

Procuro-me em olhos pequeninos
Que me deixam tão perdido.
Soubessem eles que nada sei...

Que as curvas se tornem espirais
E um novo tempo me encontre
Novas partes me substituam

E seja o tempo bom
Para uma nova missão
Que vá completando

Parte de ti

quinta-feira, setembro 22, 2016

Dor

A perda
Emprego perdido
A casa que arde
O carro que se destrói
O telemóvel desaparecido
Desânimo sem sentido
Perante a...

Perda de um pai
Perda da mãe.
Perda de um irmão
Perda do teu + que te faz 1
Perda do filho...

Dores iguais?
Cada dor uma dor, sem dor igual?
Dor que anestesia?
Dor que mata?
Dor que fica.

Doi o que não foi, a surpresa, a esperança do que não mais será...
Doi o membro que se perdeu, mas que cá está.

Toda a perda é dor?
Toda a dor é, na verdade, só e apenas a perda de algo?
Somos nós resultado dela?

Da perda
Dos pedaços
De ti

sábado, agosto 16, 2014

Não te me vás


Acredito em fantasmas
Fenómenos paranormais…
No imprevisível,
No invisível
Que mexe com as nossas vidas.

Correntes,
Leves brisas,
Uivos que nos tocam.
A loucura nas nossas cabeças...

Nos deslocados que não nos querem abandonar
Nos não-lugares que geram os sem-destino,
Na solidão que nos assiste.

Acredito que quanto mais somos mais assim é.
E que não é preciso irmo-nos para que existam.


Ao menos tenho companhia.

quinta-feira, março 20, 2014

O sorriso do meu filho
É maior
Do que eu alguma vez serei

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Luz simples

És luz.
Escondida, oblíqua, suave
Mas luz.

Luz que acorda os nossos dias
Que adormece os nossos tormentos
Que clareia as pesadas dúvidas
Que gera a permanência dos momentos

Luz que se esconde do mundo
E brilha intensamente
Só para mim.

sexta-feira, maio 11, 2012

As únicas vagas que nos restam

Hoje preencho o vazio com formas arredondadas e, outras, retilíneas que não dizem nada, senão o que nelas se quiser ler. O tempo que está para vir, como tantas vezes já aconteceu, assemelha-se a uma grande onda da qual, estando nós no mar, sabemos não poder fugir, restando-nos baixar a cabeça, quando for tempo disso, e ficar a assistir ao completo processo de submissão e transformação do Eu em eu, enquanto nos vemos enrolados naquele turbilhão que se ri dos movimentos desesperançados e inúteis que fazemos (movimentos que nos pré-existem e que nem nossos são), enquanto esperamos que tudo passe, enquanto os sons não são mais do que sons e os movimentos inevitabilidades, enquanto tentamos, enquanto... Resigno-me, por fim. No meio do turbilhão, entre movimentos e rodopios, nem tudo será mau decerto, nunca é... A não ser, talvez, quando o ar, cada vez menos ar e cada vez mais ir, se vai e vai e, entretanto, o vem não vem e... Ufff. O dia virá em que não virá mais. E até lá, o que fazer? Ondas gigantes? À vista? Fugir?!!!! Venham elas... Enfim.

sábado, janeiro 21, 2012

A incompreensão...

Estrada sem linhas, sem regras, sem sinais
Um carro sem luzes num trânsito breu
Ceticismos frustracIonais. Mentais. Fatais.

Lava escondida numa terra sem piso,
Sem esperança, sem juízo
Sem solução

Devir ilegítimo que apreende somente a insatisfação
A teimosia sem razão
O não, o não, o não

Irracionalidade,
Pulsão
Obsessão

E, inevitavelmente, a solidão
Acompanhada do perpétuo adiamento
Da satisfação

quinta-feira, maio 19, 2011

Ah_Deus!

O momento queima, fulmina
No momento da partida
No derradeiro e inadiável momento da transformação

Antes que notemos, o tempo passou
E tudo mudou, inevitavelmente
Para sempre

Na saudade antecipada do adeus

quarta-feira, novembro 10, 2010

A distância das vidas perfeitas

Há dias em que os olhos se enchem de experiências vazias
Em que as paredes do coração doem,
Por ele já lhes ter batido tanto

Há dias em que o corpo rejeita continuar a lutar,
Em que as pernas recusam pensar.
Em que a alma sai do seu lugar.

Há dias...

(Foi assim)

terça-feira, novembro 09, 2010

A geometria dos dias

O quadrado retém o círculo escuro
Que faz do ser belo circunscrito e duro.
Essa geometria da vida, tão certa e previsível
Tira sal, açúcar, pimenta e gosto àquele possível
E torna plausível o impensável, limita o infinito
Do demente, que se sente vítima de veredicto...

O que faz aceitável que o quadradinho duro
Retenha em si um lindo círculo escuro

sexta-feira, outubro 08, 2010

Não sei...

Não sei de onde vem
Este grito silencioso que me atravessa
Esta vontade ilógica de emergir
De permanecer "fora do tempo e do espaço"
Não sei...

quinta-feira, junho 24, 2010

Evasão

Quero viver para sempre
Se sempre for só um momento
E viver não for apenas respirar

E nesse momento quero fazer
Tudo o que nunca fiz
E que nunca farei

E quero que ele dure
E que exista, nesse sentimento
Sem momento, sem lugar

Mesmo que para isso
Tenha de nunca mais acordar
E que a ele nunca possa assistir

quinta-feira, abril 29, 2010

Corpalma

Tocam os sinos da nossa inocência
Os sons ecoam um fim, uma saída
Entrada numa outra coisa, numa ausência
De delimitação, de fechamento de vida

Culpo todos, por não termos conseguido perceber
Para ensinar, como perceber e explicar
Este sentir. Esta consequência de um pérfido viver
De um tédio, cansaço, desilusão. Dar, dar, dar

Como calar esta consciência, esta auto-percepção
Como enfrentar tantas perguntas sem resposta
Como viver? Para quê? Ser? Sentir a ilusão
Como realidade. Onde está, que a mim não se mostra?

Que queres? Se ao menos eu soubesse...
Tanta objectividade faz-me aflição
Já não estou habituado a essa ilusão
Harmonia, equilíbrio de que a minha corpalma carece

E que neste cansaço adormece.

terça-feira, abril 13, 2010

Animal Platónico

Quero sentir o calor dos teus lábios
Sábios
Adensando vontades, sem te tocar
Contemplando

Quero ser mais forte do que eu
Mais humano, sem o ser
Mais a parte de mim
Que diz não saber que tem outra em si

Mas a minha razão está enviesada nos teus lábios
Que uma razão só sua têm.

E, no fim,
Reclamo novamente do mesmo,
Reclama a mente

Choro de forma racional e fria
Choro o vazio da sensação que havia
Choro a pele que ficou

Amei, com dois corações, um só ventrículo
Marioneta, fui controlado por esse ventríloquo
Irracional ser de quem sou espectador

Volta, não vás...

O fazer levou-a
E o que sinto ficou

sexta-feira, março 26, 2010

"Mais para todos", menos para mim. E para ti?

O EUA é um país que se orgulha das suas políticas liberais e menos interventivas. Segundo estes, só assim as empresas têm a liberdade necessária para crescer. Porque será isso importante?

De facto, o motivo está em as empresas neste país serem o pretexto para garantir o bem-estar de cada cidadão e não ser o bem-estar de cada cidadão o princípio que orienta as políticas deste país.

Porém, a partir do momento em que as empresas começaram a esbarrar umas nas outras, tornou-se necessário criar mais regras para o mercado. Para além disso, o próprio cidadão exige para si direitos que, por um voto continuar a valer um voto, levam também a que se alterem políticas e regras.

Acontece que essas mesmas regras, que é suposto protegerem cidadãos e empresas (sobretudo umas das outras), são postas em causa quando num país que orienta as suas medidas políticas com base nos interesses corporativos passa a ser regido por meia dúzia de glutões que monopolizam o mercado em todos os sectores de actividade, desde a tecnologia aos cuidados básicos de saúde, desde a alimentação às farmacêuticas, desde a educação ao sector da banca... e acabam com a mesma concorrência que é suposto, através de si própria, ajudar a regular o mercado.

As empresas orgulham-se hoje de ser geridas de uma forma em que existe o mínimo de desperdício e o máximo de aproveitamento (leia-se lucro). Deixaram de ser os princípios de responsabilidade social que governam as práticas das empresas - aliás, são essas empresas que governam as práticas dos países, quando uma nação assenta as suas bases verdadeiras (não as teóricas, necessariamente) neste tipo de filosofia. Qualquer empresa, nos dias que correm, pensa para si mesma como pode atingir os seus fins de máxima rentabilidade, independentemente da estratégia usada (produto, preço, promoção, lugar; influência social, política, tecnológica, económica ou qualquer outra forma que possa surgir). Como jogar com os condicionalismos existentes da forma mais profícua possível?

Num país cujos paradigmas sociais são essencialmente económicos, tal não é de estranhar. Contudo, é necessário perguntar quando é que tal começa a falhar? Eu diria: sobretudo quando o regulador que garante a eficiência deste sistema político passa a ser controlado pela meia dúzia de glutões que o monopoliza. Então, as regras passam a ser definidas pelos próprios e o país corre de acordo com a sua vontade. E quando o país toma conta do mundo, é, assim, todo o mundo que é sujeito a estas vontades.

Mas, porque um voto ainda é um voto e porque as empresas continuam a pensar para si mesmas como podem atingir os seus fins de máxima rentabilidade, independentemente da estratégia usada, torna-se também imperativo jogar com a opinião pública. Como? Controlando os media, intervindo nos blogs e redes sociais, aperfeiçoando as técnicas de aliciação, corrompendo e limitando os poderes do povo através de leis sucessivas nesse sentido, limitando as opções e fornecendo as únicas que possam existir.

E tudo isto para quê? Sobreviver? - não seria preciso tanto esforço. Dinheiro? - e quando esse deixa de ser necessário? Poder sobre os outros? - de onde virá um desejo que nunca consegue ser colmado completamente? Competitividade/prazer de ganhar? - e quando já se é o melhor, ou o maior, o que se pode atingir mais?

O que dizer de um país que é ensinado e que ensina que a felicidade está apenas na junção destes três factores: dinheiro, poder e vitória? E quem devemos culpar? São estes desejos recentes? Não são eles a réplica de qualquer império existente no passado? Não são estes apenas os imperadores dos nossos dias?

Convencemo-nos que, apesar das diferentes políticas mundiais, esta é a única forma de sobreviver nos dias de hoje. Para podermos continuar a gozar dos pequenos luxos que possamos ter (sê-lo-ão?). Enquanto essa promessa continua, a diferença entre os que tudo têm e os que nada têm aumenta, as pessoas sofrem, o ambiente sofre, a tensão geral aumenta e o tal "bem-estar comum" adia-se. Até quando?

Quanto teremos recuado nos últimos 100 anos? Quanto teremos avançado? O que entendemos por avançar, nos dias que correm? Melhorar? Ser mais feliz? Encontrar mais bem geral? Gente mais gorda? Mais rica? Mais bonita? Melhor falante...?

Perguntemos por aí: estás bem? Por dentro e por fora? No corpo e na mente? És feliz?

quarta-feira, março 24, 2010

Os Irónicos Segredos da Experiência

Choro, por não lembrar os momentos que sinto
Mas que sei que tive

A sensação de instinto faz-me mais dor
Do que o completo e total desconhecimento

Preferia não sentir, ser máquina sem misteriómetro
Sem traços de passado, sem desejo

Preferia não ser
A estar assim sem saber

Porque choro, porque quero, porque faço
Porque passo por aquilo que passo

E tudo me parecer estranho e familiar ao mesmo tempo
E tudo criar em mim saudade

terça-feira, outubro 20, 2009

O Descuido da Felicidade

Foi triste e só
Que fui

Desejando coisas que
Não se revelavam

Vazios que não se fechavam

Foi triste e só
Que andei

E procurei memórias transformadas
Coisas que já não eram
Que nunca foram, talvez

Foi triste e só que vim

Foi triste e só que fiquei

Triste comigo
E só, por não te ter.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Poetria

A poesia,
Das respostas impossíveis e da beleza transcendental,
Bate-me à porta e pergunta por mim.

Não estou, respondo. Talvez ela se vá e me deixe
Só, como nunca deixei de estar,
Perdido, como ela me vem lembrar.

A voz esganiçada que vomitei
Contrariou a fraca vontade que tenho
Admitindo o querer e o desejo de ser notado.
Rejeitando a teimosia e o orgulho de um velho
Jovem, nos anos, podre, na vontade

Mas os segundos fazem-me falta
Como desculpa
Para dias insatisfeitos
Sem culpas
Sem jeitos

E, como antes, a poesia traz-me a verdade da incerteza,
O princípio máximo da realidade,
A parte mínima, descomunal, que faltará à verdade
Tão certa, tão verdadeira que não a quero ver...

Caminhando por degraus perfeitamente traçados,
Ou por outros enviesados,
Por montes e vales, pela sua simples rejeição.
Da degradação dos degraus? De si mesma?

De mim!
Essa sim a certeza.
Porque, como ao bater à porta e perguntar por este que não está,
Essa é a realidade.

A única que conheço.
Não existirá mais nenhuma.
E quando eu souber, ela então existirá.
A poesia mo dirá.

Se a não conseguir evitar...

terça-feira, dezembro 30, 2008

Insuficiência Sistémica

Todos vemos
Onde está um escuro cerrado
Onde nem uma ténue luz de sombra se revela

Todos vemos
Cegos como estamos, todos sem querer,
Vemos só o que não vemos

Inquestionavelmente todos vemos sozinhos,
Sem precisar de mais ninguém,
E porém, neste céu fechado, ninguém vê

Todos vemos... mas não vemos o que está por fora
E assim vemos mais do que quereríamos ver
Por vermos menos do que precisamos

Num mundo de treva, castigo para todos,
Incapazes de gerar luz que dê razão aos seus sentidos,
Num mundo em que as técnicas de outrora não resultam mais
E o sol se foi...

Faça-se luz novamente e veremos finalmente
As barreiras do andar tornar-se instrumentos
E a paz regressar aos seus tormentos

quinta-feira, outubro 23, 2008

Prazer Latento

Mergulho em ti,
Mar imenso, paz do universo,
Recupero, submerso, o equilíbrio original.

O tempo retrocede em busca da não-memória
Da felicidade infinita do não-saber.

E o ar, ofegante, penetra involuntariamente.
Sentido, leve, calmo

Respiro as expectativas do porvir.
Segundos inteiros dividem e completam
Todas as angústias do mundo

Então, por um leve fio de tempo,
Renasço do fundo do meu sustento

quinta-feira, outubro 16, 2008

Modernidade

Entras na sede da fome
Na fome da sede
Como se esse nada fosse tudo

Canibal Social
Sociopata diário
Da selva dos nossos dias,

Que crias e alimentas.
Primata corporativo,
Ser mesquinho do novo mundo

segunda-feira, setembro 29, 2008

Il Pleut

Lá fora chove,

Cá dentro eu amo. Sei que amo,
Mais do que a imaginação do meu saber

As lágrimas rasgam e queimam
A pele, alimentam o querer.

E o "eu" só pensa na negação,
Nega a razão do seu sentir.

Nega o evidente, com o coração no lixo.
O coração que fui buscar

Enquanto chovia lá fora.

quinta-feira, junho 05, 2008

Estristeza Sentida

Foges de mim?
Mas para onde vais beleza,
Que deixas estristeza
Tão só, assim...

sexta-feira, dezembro 07, 2007

A Seca do Suor

É grave e constante o cinzento
De cimento e ferro que alicerça
Os nossos dias

Momentos para os outros
No fundo para nós, dizemos...
E cada vez mais longe, cada vez mais sós
Cada vez mais menos

Lá fora, o mundo espreita impávido
Expressão triste, de incredibilidade e gozo,
Seres imasculados, sem fronte nem lado.

Grávido com a dor do mundo
Vazio de potencial
Empurro mais um dia, menos um mal

E tudo tão verdade,
tão desilusão
tão repetição

Nada ideal.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Mão

Uma mão é a cabeça do corpo todo
Sentimento, razão e poesia
Chuva de Primavera, Outono de fogo
Mão que se escreve, mundo que se cria

É valor potencial
Que sustém toda uma vida
Calejada e por vezes ferida
Mas sempre mão, sempre igual

Agarras os meus medos
Serves de encosto ao meu descanso
Defendes-me desses enredos
Que em tantas vezes me lanço

Sempre comigo, sempre prestável
Dás-me paz, apontas-me o prazer
Ajudas o mundo a acontecer.
E o coração bate mais estável

quinta-feira, setembro 06, 2007

Rasgar o Mar Para Navegar

Os dias demoram-se repetidamente sem sabor
A infrutuosidade dos dias…

Sonhos adormecidos, não me estremecem
Promessas adiadas,
Acumuladas numa caixa cada vez mais funda,
Juntamente com desejos e intenções vãs

Desespero, cansado, que as palavras humedeçam
As nuvens desvaneçam
Se revele o sol desse sonho adormecido

E sinto vontade de navegar nessas tuas lágrimas curvas
Escondidas por esse sonho
Onde ainda hei-de ser caravela

Mas... Temo a pergunta: ‘Porque me amas?’

Nenhum alimento, nenhum instrumento
Nenhum argumento…
Lembrei de trazer para te responder

Por Seres Tu e Assim Eu Ser Mais Eu Nos Nossos Nós
Desde Quando Os Teus Olhos Rasgam e Abrem os Nossos Dias
Até Anoitecerem a Nossa Ânsia de Sonhar Juntos?

Certo será, quando acordarmos deste sonho,
ainda havemos de sonhar!

Ao teu lado tudo é possível

sexta-feira, julho 27, 2007

DesAgosto Que Me Mostras

Desejo para mim, como nunca antes desejara
Confundir-me com as imagens do prosaico,
Diluir-me na transparência,
Prática, morta dos objectos sem uso

Evito sequer ser pó, que atraia qualquer olhar
Qualquer desejo de mudança.
Atrai-me o escuro da sombra,
O canto esquecido do sol, a transparência do natural

Os múltiplos sons do silêncio
O latejar do pensamento...
Que magoa e fere no estender dos dias
Sem fim,

Sem diferença. Resto ser igual...
Nem assim encontrar suficiente semelhança
Que me permita ser esquecido
Como sou pelo ideal

sexta-feira, julho 13, 2007

Hipnose da Descoberta

Alongou-se, na despedida, numa conversa quente
Apanhado de surpresa quando os seus olhos lhe gritaram: Acha-me!

Descansando-os fascinadamente sobre si
Demorou o seu olhar
Tanto quanto os limite do aceitável permitiram

Por dentro, um turbilhão - misto de ansiedade e agitação -
Faziam gaguejar e tiravam o sentido a palavras
Antes macias, deslizantes, arrebatadoras…

Sentia em si a infância
A frescura num olhar
Já tão cansado e cheio de tudo

Em redor vislumbravam-se, cada vez mais ténues,
Ecos e sombras.
Contra-luz, contra-voz…

Contra o desejável,
Hipnotizante,
Epicentro de um novo mundo

quinta-feira, maio 03, 2007

Distracção Anosa, Discuido Danoso

Numa pequena distracção

O Outono cinzento adulto em sociedade
Levou-me a felicidade

Sinto esvair-se-me a naturalidade
Corre mais rápida do que eu
A horizontal espontaneidade

O génio simples, o despropositado
Tão bons e tão maus nos seus momentos
Os sentimentos violentos,
O rude sem querer...

Rasgado, fissura na ruptura,
Vazio por preencher
Alguém novo para conhecer
Um desejar,
Um querer... Um dizer...
Um novo Ser

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Memórias de papel

Rasgado o mundo em dois
Quebrado, suplantado, dorido
Margens inteiras se dobram para me apanhar

Choro o céu daquele lugar,
De onde apenas se desliza para o vazio
Descabelo-me contra a minha própria fraqueza
Das gerações que não choro... Que não rio...

O verde, a maresia, o teu toque de veludo
Memórias vãs de um ser no abismo
Intensidade, querer, heroísmo
Desejo incapaz, mas querido, do ser sisudo

Ah... Não quero mais que isso!
Um reflexo na superfície desse oceano
Uma esperança de início, para o vício,
Um olhar, um som, uma corrente que me vá levando

Para aquele lugar do qual nunca saí
Ao qual nunca irei voltar

Frio Dolor

Existe um frio lá fora
Que me gela a alma.
Um frio subtil, um frio de calma
Veneração Outonal que o Inverno namora

Queria eu também um frio assim...
Não aquele que tenho, que dá cabo de mim.
Limpo e honesto, sonoro
Gélido no seu sentir com que acordo

Queria-o antes adormecedor
Já despercebido na sua constante latência,
Não acompanhado desta pequena demência
De chamar frio ao amor

sábado, outubro 28, 2006

10 minutos do Tempo

Decisões são consequências certas
O feito que não pode ser desfeito
A correcção só atenua o infortúnio

O tempo que não assenta
O presente que nunca o é

A responsabilidade
O nada que é sempre algo

O peso constante de um corpo hirto
Grave… À qual não se pode fugir

O meio, o indivíduo, o contexto
A inter-sujeição, os outros, o colectivo
Restrições morais, legais, logísticas...

A dor da dúvida que nunca se extingue por inteiro
A probabilidade que nunca chega a SER
A nossa pequenhez perante o todo
A origem. O destino. O mistério

Os instintos naturais imunes de restrições sociais
O preço impagável de sonhar
A frustração individual daquele que isso não pode pagar

O imprevisível, o imediato, o clareado distanciamento
Os sucessivos filtros,
O bom senso, desdenhado pelo inferior ser superior

O imperceptível interior que ao mostrar-se já não o é
Via-se a surpresa a fugir, escondiam-se outras… Sacanas!

A parcialidade como lei
O visível, face a um ser maior
Permanentemente incompleto

A subjectividade
A ingénua objectividade
A magia interior, a única que existe

A ilusão de ver,
O desconforto de ser visto.

O intertexto, o inconsciente
A ambiguidade, o enigma, a pluri-significação, a opinião
A mentira. O real?

O Deus e os Eu’s

O tédio
As massas, a propaganda, publicidade,
Os ícones. Lavagens cerebrais

A passividade, o desprezo
A activa hipocrisia do jogo da actividade

Os radicalismos,
O meu. O nosso…
Capacidade e esforço vs. Igualdade desmedida

O futuro sempre muito distante
O presente sempre muito passado.
A história, plena de dicas e preconceitos

O amor
A confusão
O tudo junto
O EU e tudoresto
Sempre tão resto
Nunca tudo por muito tempo

O incompleto
O contexto
A ténue, frágil, inglória realização

A insuficiente sobrevivência
Os prazeres imortais

A felicidade sobra para ti
Oco, frio, calculista, inconsciente do fundamental,
Desinformado, arrogante, abastado, egoísta,
Presunçoso mas combativo, ambicioso, superficial,
Não nobre indivíduo desalmado
Que se chama a si próprio de SER

E que na sua convicção tem muitos mais dias bons do que maus

sexta-feira, outubro 06, 2006

Querer o Mundo, Desejar Fugir Dele

Tenho tudo o que quero
E nada do que preciso
Numa luta que existe
Mas não se sente
Entre o meu mundo e a minha natureza
Queria querer antes o que preciso
Se ao menos soubesse eu o que é
Ou não estaria a ter esta discussão
Mas uma outra qualquer

sexta-feira, setembro 29, 2006

Sonho Dormir

Vejo no céu
As cores do teu olhar
Vejo nas nuvens os teus passos
E nas aves que passam a tua suavidade
Vejo no verde que me rodeia
A esperança de te ver de novo
E dessa esperança a vontade de acordar começa a aparecer
Vejo no horizonte
As linhas infinitas do teu rosto
E na suavidade da manhã
A frescura do teu cheiro,
O sabor único desses teus riachos
O chilrear dos pássaros, os sons da natureza,
A doçura das tuas palavras
E à medida que tudo isso se aproxima
A tacanha realidade leva-te para longe...
Pode ser que amanhã sonhe de novo.

Não seria melhor passar todo o tempo a dormir?
Custa esta vida de acordado… Custa a vida!

terça-feira, junho 06, 2006

segunda-feira, junho 05, 2006

O Legítimo Zé Ninguém - "The Man of the Crowd"

Entre os véus negros que rolam na praça
Vão os simples, os reles e os outros
Os outros, tão outros que se excluem da exclusão
Perdidos que vão na sua propria sofreguidão.

Seres vivos do desintendido
Mundo. Mudo, imundo
Cumplice fedido desse alarido.
Tumor interno escondido, esquecido
Buraco negro, grito implodido no fundo

Esquecidos lá vão...

quinta-feira, junho 01, 2006

The Post-Conscience of the Hero

Are you prepared to pay the price of indifference? Of a life without feelings or emotions? Of the state of mummification that has taken away all your certainties, your safety illusions, your everlasting childhood… Are you prepared to be the piece in the machine that wasn’t made by the old man’s heart, but by routine alone? Are you prepared to be that routine now and, despite that, reciprocate the old man’s desires and hopes? Are you prepared to live in this thing where there’s nothing left of virtue but panic, regrets, paranoia, sadness, guilt, shame and trauma? Were you ever prepared at all? Are you ever going to be?

sexta-feira, maio 19, 2006

Homem Novo

O Homem descobriu no verbo a inexistência de um deus
E no mesmo verbo achou a impossibilidade de imortalidade total
Então acordou para o mundo e achou em si mesmo o seu Deus
O todo poderoso ser que pode determinar uma pequena, mas decisiva, percentagem
De toda a aleatoriamente que prova ser este mundo,
Embora que engolido em rotinas que lhe estabeleçam uma pretensa ordem,
Indispensável, não à sobrevivência biológica, mas – e talvez mais importante – à mental
E agora, com esse homem-deus por aí, esse super-homem, que venera as suas mães e anseia matar todos os seus pais
Os seres bons que lhe deram noção da realidade, das limitações exteriores, da lei,
Mas também a capacidade individual e do peso individual no todo
Está aqui. E por cá vai ficar e ser e fazer até que algo mais venha e que as poucas incertezas que tem tenham valido a pena enquanto o ar foi ar
E que só depois venham as verdades,
Que só o tempo ditará,
E que só a ideal idade lhe dará

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Tributo À Saudade


(Foto de André Matos)

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Beata Heresia

Tenho a fé do passado
Na inexistência da fé presente
No presente
Para o presente...
A fé, sempre ausente, das almas que,
Como eu, vagam insatisfeitas
Ainda que na segurança da verdade,
Tão absoluta quanto ilusória, da modernidade

sexta-feira, setembro 09, 2005

Roda António

Roda que mordes essa outra no cú
Num movimento tecnofágico
Persistente e repetido

Fazes soltar um gemido
No operário, antes mágico,
Quase já tão maquinal quanto tu.

E a magia se derrama, espalha e perde
Em mil pedaços que ele não consegue reunir
E só resta em ti essa sede
De infância. De embrião. De dormir.

Inútil

Sinto em mim a futilidade
O desinteresse, a passividade e a frieza
Sinónimos claros de um só fim
Um corpo que segue para longe de mim

A masturbação Mental do Eterno Insatisfeito

Preciso de um não-sei-quê de não-sei-quanto, não sei que mais,
Duma daquelas maneiras tais,
Para poder, por fim, dizer que estou bem; e que
Não preciso de mais sei-lá-o-quê que, sei eu,
Irei, na mesma, sempre buscar
Como se nada existisse já em seu lugar.

Querer Mais Do Tal Não-Querer

Quero acabar tudo contigo!!!
Quero a separação!

Quero a independência
Quero a satisfação!

Quero a diferença

Quero o amor
Quero o reconhecimento
Quero o entendimento
Quero a confiança

Mas... Quero também...

Quero o sorriso
Quero aquele amanhecer
Quero esse toque e esse beijo
Quero... Esta dependência

Quero... Quero...
Quero que me perdoes...

Quero que, por piedade que seja,
Me aceites de novo. Que esqueças que sequer...

Ainda que nunca me tenhas deixado

quinta-feira, julho 21, 2005

Viver, em 5 minutos

Em cinco minutos
Uma chuva seca roubou o lugar ao sol
Só para que ele pudesse lembrar como brilhou
Em cinco minutos
Os pássaros renasceram
As árvores floresceram
As terras reviveram...
E eu deixei-me afogar
Em tanta beleza

Apelo-te Que Me Apeles Apelo

Mas para onde foste tu apelo meu?

Inspiração divina que guiava os meus automatismos

Força corpórea que forçava os meus mecanismos

Coisa incerta que empurrava os meus tropeços de ânimo...

E que tornava razão, o banal

Aquele aparente natural

A Salvação

Bela,

Açúcar e sal de uma vida sem sabor
Dor segura e fria, revestida de suor frio
Cala esta coisa... Este desespero... Dor...
Impede os meus passos sonâmbulos para o vazio

O apelo do ocioso

Só hoje... Só hoje consegui vê-lo

Tão tarde descobri a génese da tristeza e da permanente insatisfação

Dias inteiros sem chamamento, sem motor de arranque, sem paixão

Sem apelo...

domingo, janeiro 23, 2005

Próxima e Infinitamente Distante

Eu amo alguém
Que foge
Da Saudade que corre
Dentro de mim

Um sentimento agudo de dor,
De querer,
De desejo,
De vazio.

Alguém fugidio.
Alguém como eu…

Ninguém

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Frio Racional do Amor

Passo ao lado desse rio
Afluente do teu olhar
E choro a água nesse frio,
Frio de rio. Frio de te amar

Alienado

Foi certo aquilo que disse,
Foi-o sim para mim.
Ainda que fosse apenas mito,
Ainda que não visse em si um fim,
Ainda que o não tenha dito…

Foi certo aquilo que disse

Espelho Quebrado, Escurecido

Completo, Complexo, estação final de nossas vidas
Esgotadas que estão as folhas que flutuam
Rasgos de saudade, receios, lágrimas perdidas
Das nossas vidas, nossas queridas vidas

Mais um sol, mais vozes, mais sonhos que nos inundam
Lavam a alma naquele vai e vem fugidio
Sem lamentos, porém, que remoam e doam
Às nossas vidas, nossas queridas vidas

Solta um grito, solta a palpitação. Rasgam o frio,
Memórias num sorriso fechado, de um corpo parado,
E uma mente electrizante nos sucessos de outrora. E rio
Das nossas vidas, nossas queridas vidas

Um quarto enfezado para nascer, apodrecer, morrer. O fado…
Uma neblina a quem revelo os meus segredos
Uma ponte para o vazio para onde nado
E dou fim à vida, às nossas queridas vidas

Movimento

Um movimento só,
Acompanhado de um maior desejo de se movimentar,
Sonha, imagina, quer
E chega a qualquer lugar

Um movimento só
Capaz de, recorrendo a si,
Estar aqui, estar aí, estar ali, estar acolá

Um movimento só,
Ainda que para sempre parado,
Faz o mundo existir
E dá-me paz para dormir

quinta-feira, agosto 26, 2004

Dá vida... E morte!

Recordo com endividada tristeza
A devida beleza que é a tua
E que me fez bem.

Abalaste os sentidos da vida;
Abalaste, abalaste
E não voltaste mais.

E recordo cada momento, cada dia,
Esta nova melancolia
Que não te afasta daqui.

E sofro o momento,
Do acordar ao cessar,
Daquele sentimento...

Dessa chave que não chega jamais,
Para calar a memória,
Tão presente, das dores imortais.

Tu Musa

Oh musa que rompes efusivamente na minha efusão
E ferves o meu tempero sem nos queimar,
És tu que me alimentas, até que a temperatura faça escoar
A seiva transbordante da nossa paixão

segunda-feira, agosto 09, 2004

A Complexa Divisão da Multiplicidade

Quadrado ser do meu quarto
Porque não és tu só meio -
Como sabes que deverias ser -
E assim, ao ser menos, serias mais

Portas fechadas… Janelas Trancadas

Abandonado de lar,
Não o sitio onde vivi
Mas o sítio que viveu em mim,

Esvaziado de ser
Passei a fronteira do querer
E rendi-me à auto-absolvição.

Inconscientemente consciente
Fiz simplicidade do impossível
E pereci na possibilidade
De Ser feliz… Só, na tentativa

segunda-feira, junho 21, 2004

A Desilusão da Percepção das Coisas

Cedo cedo às pressões do mundo e afasto-me das raízes.
Quando em quando lá (re)volto àquelas discussões constantes e sem ressentimentos,
Àqueles atritos originais e contudo tão banais,
Comprimidos difíceis de digerir mas que lá curam os meus males

Mas as origens só por si já não me chegam.
Para o outro chegavam. Sobravam...
Qualidade de vida era génese.

Hoje pseudo-genesético, fruto de amálgama que o tempo unificou
Não sou mais. A unidade que o passado iludia lá ficou.
O hoje... Desilusão...
Hoje não é nunca, senão no tempo da ilusão... Que já perdi.

sexta-feira, junho 11, 2004

Um repto simples. Uma resposta complicada.

Hoje,
Bimbo, Bazaroco, Tanso, Albino, Barrajolo,
Comprei uma bandeira
E pus a esperança à varanda

sexta-feira, junho 04, 2004

Fragmentos da Desfragmentação

Tu que só existes no lugar de mim a que ninguém chega diz-me: o que é que eu estou à espera de esperar de esperar de ti?

O Lamento do Hipócrita

És a minha coisa que dura
E mole e mole
Por muito tempo,
És a dureza que me atura
E eu amo
Sem lamento…

Beleza da Natureza

Em consideração pela tua pele
Brancas são as noites que não passam a pensar em ti

E o negro forte do céu é o dos teus cabelos
Que o desejo faz deslizar entre os meus dedos

A Razão Complicada Dos Simples

Não me custa a morte.
Custa-me deixar de viver.

Nacionalidade ao Cérebro

Li Portugal como se o tivesse escrito
Com muito amor e igual sentido crítico
Hoje, desanimado, insultado, desarmado de ser
Sou estrangeiro que já não quer saber

O Saber dos Sentidos

Amor, meu professor,
A tua luz é o sol que irradia o nosso conhecimento!

Alegria Fugidia

Um sorriso resplandecente surge do meio da bruma
O escuro fica mais escuro e assim mais belo
Por muito provável que a alegria venha e rapidamente suma
Aproveito o sol que a lua reflecte no nosso castelo

Sinais de Deus

O tempo trai-me. O meu inconsciente é seu aliado.
Rejeito todos os sinais. Rejeito ser renovadamente
Rejeito ser parte ou a soma das mesmas de qualquer fado
Só afirmo a rejeição, do corpo e da mente

Livro...

Livro publicado é hérnia de dor querida que se corta para dar ao mundo

Interior, Que Não Te Vejo

Eu, múltiplo, que o tempo diversifica e transforma,
Abro-te o meu interior para que possas nele ver o exterior
E te apercebas dessa primeira impossibilidade

quarta-feira, maio 05, 2004

A Escrita

Esta transforma os meus pensamentos
É ela a culpada de todos os meus males
Expõe pessoalmente os seus argumentos
Mas não chega a dizer nada destes momentos

Que fazem de mim um instrumento seu,
Tal como o amor me o faz costantemente
Fim ao sentimento e pensamento meu
Fim à vida. Fim ao céu.

Morto-vivo cedo à masturbação mental,
Ao processo descontextualizante
Que pouco tem de pessoal
E só me traz recompensa agonizante

terça-feira, abril 27, 2004

Sol Nascente, O Prisioneiro

Penetrado por uma
Criatividade que não pensa,
Choro estas palavras
Rio estes versos

quinta-feira, abril 08, 2004

Noite De Mar

Durante as noites em que as ondas batem mais compassadas, ao ritmo do sono que não chega, este som a natureza torna-se a minha única companhia.

Já este mar de encantos, nunca se queixa de não dormir. Isto julgo eu...

Pois é bem possível que este som seja apenas o seu constante lamento por não poder dormir. Não poder repousar.

Pudesse eu perceber a linguagem do mar e nada mais faria, amigo meu - que tiraste uns minutos do teu tempo para me ler, que contar-te tudo, de tudo o que ele me diz. Suas divagações, seus caprichos, suas dores, seus sentimentos...

Porque mar que fala sente concerteza, senão para que quereria ele falar?!

De dia o mar não canta do mesmo modo. É certo que de dia também o não ouvimos do mesmo modo, mas a noite tem sobre todas as coisas um efeito diferente, que se sente, não se explica. E quando se tenta explicar, mais parece que se afasta mais e mais o que se sente.

Cada palavra que tenta puxar só consegue empurrar mais e mais o sentimento. E mais é pouco para quem, como eu, já sentiu semelhante coisa.

Passa-se que a noite deste mundo foi coisa que o próprio mundo nos presenteou para descanso das nossas almas. E se o mar tem alma, que eu acredito que tem, sofre concerteza.

O descanso do corpo consegue-se a qualquer altura, mas esse não é o verdadeiro descanso. Se a alma não descansa o corpo, seu servo, dobra-se, contorce-se, amua... Azia natural de corpo com alma que não teve a paz que o corpo lhe merece.

Será concerteza sádico da minha parte conseguir tanto sossego com o suave som da tua agonia? Oh mar, que não dormes, acredita que este sadismo não é voluntário! É sim de alguém que te pensou e que se resignou perante a grandiosidade desse movimento que me torna tão inútil e incapaz de aliviar a dor do teu lamento.

Diria que podia ouvir essa melodia (ou agonia, que me custa tanto pensar que o é) durante toda a noite.

Mas, mais tarde ou mais cedo, sei que este prazer me vai levar ao sono. E então perceberei que o prazer não vinha desse som de surdina e falador, mas antes do facto desse som me levar cada vez mais perto do sono.

Do reencontro da minha alma com o sonho suave que só a noite embalada pelas ondas trás.

quarta-feira, março 31, 2004

Antecipação, Repleta De Emptidão

Correm-me pensamentos pelas veias,
Pensado é o meu corpo todo.
Os outros textos, as minhas teias
E eu imóvel na mobilidade de tudo.

Não sinto as palavras que escrevo.
Formato digital. O presente natural
Escorrega pelo inconsciente determinado,
Munido de intencionalidade parcial

O automático não se pertence a si,
Não tem ser donde partir.
E eu só pertenço ao automático
Menos ser que eu,

menos EU, menos EU

sábado, março 27, 2004

Musa Lusa

Vermelhaste a face de todos em redor
Bela, insinuada, descarada, sem pudor
Uns riam, outros sorriam, todos te viam
Musa lusa, brilho incandescente. Isso, riam…

domingo, março 21, 2004

Ditos Populares – Sujeitos Impopulares

Já lá dizia a velha das Viagens de A., que quando não se trabalha, trabalha alguma coisa em nós que nos cansa ainda mais.

Aqui digo eu, que quando o espírito não nos toca falece qualquer coisa em nós, a que comummente chamamos vontade.

Daí a nossa vida de cansaço. De permanente irritação. Que a ociosidade não compreende. Pois isto nada lhe diz.

terça-feira, março 16, 2004

Vida Na Bruma Será Vida?

'O ser de ter
é o querer ser
e não querer'




- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOO!!!!!!

- NÃAÃÃÃÃÃÃAOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!

Gritava! Brandava! Corriam-lhe as últimas lágrimas duma vida seca. Abriam-se fendas que nada mais poderia fechar. Nada?Ninguém!

- Só quero o meu filho! O MEU FIIIIIIILHO!!!

E em segundos, num espaço sem tempo, a matéria diluiu-se em vazio. Em nada. E a esperança tornou-se o gigante que tudo poderia concretizar. Se quizesse?

- Eu abro mão de tudo meu Deus. Dá-me o meu filho? Salva-o? Eu dou tudo o que tenho. Eu ajudarei os outros. Mas O MEU FIIIILHO!!! DEUUUUUSSSS!!!

Em volta, as pessoas olhavam um homem estranho. Louco decerto. Possivelmente até, um homicida, não fosse ele ser estrangeiro na sua aparência. E nos tempos que correm, seria, muito naturalmente um terrorista. Aqueles polícias ali à volta, lá estariam por algum motivo! E aqueles gritos de horror... Arrependimento de certezinha absoluta!

Ah, mentes pequenas. Xenofobia atroz.

Entretanto as sirenes chegavam, o mundo todo buzinava. Em momentos, toda aquela rua era vermelha e azul. Todo o movimento se dava ao passo de compassos agudos. Sirenes, essas sim do horror? E contudo, a réstia, a esperança de salvação.

No chão o vermelho - fogo, tiro, queda - escurecia. Em seu lugar aparecia o negro.

A loucura espreitava o seu momento para aparecer em palco. Que excitação! O seu instinto dava-lhe certezas que nenhuma probabilidade àquele pai podia oferecer.

O vazio completo passou por aqueles momentos de espera. A batina branca? ou verde?!... que o diga a loucura, ela saberá seguramente!, trouxe a notícia esperada.


(?)


Na paz dos últimos dias, o suicídio chegou. Não como necessidade! Antes, como... naturalidade.

sexta-feira, março 05, 2004

Incontornável Lei da Não Presença

Que fique. Não...

Não fique!

Não sei...

Olha para mim...

Molha aqui a tua mão.

Vês...

É este o efeito da solidão

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Futuro Sempre Insuficiente

Dia nenhum é suficientemente grande para eu fazer aquilo que não me apetece fazer

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Sinónimos Quase Perfeitos

Junta-se uma letra,
Ainda que não letrada,
Numa outra, também ela só falada,
E cria-se a família Palavra

Os sons tornam-se vozes
Ganham corpo. Amalgama
Das suas várias partes
Especialmente cuidadas como poema

E então começa-se a escrever
Ou simplesmente a falar,
Para expressar sentimentos. Para comunicar…
Para que o que nunca será, venha a ser.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Para Quê?

Para quê tentar sentido,
Quando ele próprio anda perdido
Nas teias que ele próprio traça
Na procura de si mesmo?

Para quê fomentar o desejo,
Quando ele próprio nada quer,
Senão levar a pensar que o que vejo
É que causa a felicidade do ser?

Deixar-me estar aqui achado,
Permanecentemente no meio de tudo
E ao escrever, recusar ser mudo
Ao indecifrável movimento do mundo.

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Verdade, Verdadinha! Ou eu não me chame...

X – Então, vamos lá descobrir a verdade?!
Y – Embora!
X – Mas só a absoluta!
Y – Claro! Senão não é a verdade!
X – Fotografaste-o?
Y – Sim, foi simples!
X – Olha lá para isto comigo, então.
Y – Está bem.
X – Então, mas isto não é a verdade!
Y – Não?!
X – Pois claro que não! Aqui não está o que veio antes, nem o que vem depois. E, para mais, só mostra uma das faces daquilo; e de uma só perspectiva, diga-se. Já para não ir mais longe e dizer que no processo da foto, ela primeiro estava ao contrário e só depois é que foi para o direito!
Y – Mas olha, o Z também gravou isto em VHS, queres ver?
X – Yeah, isso de certeza que resolve a questão!
Y – Vês, aqui está! O antes e o depois! Bem focado e tudo! E filmou-o todo à volta.
X – O quê?! Achas? Aqui só vejo um bocadinho do antes e do depois! E quando ele anda à volta deixa-se de ver o que está do outro lado!
Y – Ishhhh, pois é! Olha, vamos falar com o N. Dizem que os artistas são os melhores na procura da plenitude. E ele é um artista, oh diz lá a verdade?!
X – Eh… Oh, referes-te ao quadro do N. Eu também gosto do N mas temos que dizer a verdade, o objecto aqui é a cara dele!
Y – Eu não acho!
X – Pois também ele não devia ter achado, porque isso de achar é que o fez fazer isto! Alcançar a verdade equivale a olhar para ela sem filtros no meio, percebes? E já viste as cores? O que é que é aquilo?
Y – Devia ser de noite!
X – Oh, mas de noite ou de dia aquilo não é o mesmo?
Y – Pois… Devia ser… Mas olha lá, o que é que é aquilo para ti afinal?
X – Então… É aquilo não estás a ver?
Y – Estou mas...
X – Ah, já estou a ver. Olha aquilo é a,q,u,i,l,o. Está melhor?
Y – Ah, sim já estou a perceber! Então, mas se eu só ainda tivesse 6 meses e não conseguisse falar, aquilo não era o mesmo?
X – Era, era. Tu é que não!
Y – Hum. Eu nem devia dizer isto, mas… Sabes, no outro dia levei-o para casa e andei às voltas com ele. Abstraí-me de mim mesmo e mexi-lhe. Mexi-lhe mesmo! Olhei-o, cheirei o seu perfume, senti-lhe o gosto. Ouvi-o, percebes! Acho que consegui sê-lo!
X – É isso! Isso é que é a verdade! Já sabias afinal! Então diz lá como é que foi?
Y - Eh pá, não me lembro bem. E o que sei não consigo explicar…
X – Oh… Deixa para lá. Mesmo que te lembrasses, já foi no outro dia. E sabes bem que a memória não é. Parece! É como a fotografia de um quadro que caiu na lama e que, embora às vezes se suje mais que noutras, todos os dias está um bocadinho mais estragada. É a outra luz de nós. Pena só brilhar com força às vezes!
Y – Que chatice! Isto afinal não é assim tão fácil.
X – E temos sorte que aquilo está quieto, senão já estás a ver!
Y – Pois estou, estou! E já viste se aquilo pensasse?
X- Ah, ah, ah. O mais certo era estar agora a olhar aqui para nós, para saber, na verdade, o que estamos para aqui a fazer.
Y – Olha, verdadeiramente, mesmo que quisesse também não te sabia dizer.
X – Deixa lá isso. Vamos a mais um copo?
Y – Mais ainda? Heia!
X – Vá, desta vez pago eu.
Y – Vá. Vamos lá ter com N e com o Z, então.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Felizmente Ó Luar

Descalço os sapatos, que de tão molhados e enroscados parecem sofrer de cirrose, e reencontro o conforto. A lareira, que quando cheguei já rejubilava, solta flamas saltitantes que, fixadas, me observam e rodeiam, para meu aconchego. Em Israel chove igualmente. Bombas que nenhuma lareira consegue secar. Pelo menos é o que diz o homem da caixinha ao fundo. Ele é que sabe! Perguntem a quem quiserem. Entretanto a porta bate. Os músculos, doridos e adormecidos, fazem grande esforço na direcção da gravidade e impedem de me levantar. Entras, e sem um beijo, nem um lamento, descalças-me as meias e descolas-me as calças e a camisa. Então sim, beijas-me. Imaginava-me, igualmente, a desconstruir as tuas vestes molhadas. Mesmo que o quisesse, os músculos tinham-me presos a um cadeirão, que só agora reparei estar aqui, e a lareira havia conspirado contra mim, enganando-me através de movimentos animados, fazendo com que os olhos, os incessantes conhecedores de tudo, entrassem agora, lentamente, no desconhecido. E, sem querer saber bem porquê, sentia-me bem.

Passeio de domingo... Há sexta

Hoje vim aqui só para ver se isto ainda existe. Há tanto tempo que não mexem neste blog que até pensava que ele já tinha ido ao ar... Lá com pó está ele. Mas ainda existe!
Vá lá...

A Felicidade do Momento Regresso

Faltava aquilo que faltava a toda a gente.
Faltava o amor que a gente sente.
Faltava esse grito.

Tudo voltou quando regressaste.
Mas agora, o amanhã, o depois de amanhã
E o dia que depois desse há-de vir,
Acabarão por reduzir tudo isto a pouco
Muito pouco.

Deixa-me assim aproveitar
Este momento de consciência,
Não vá ele desaparecer...
Só por eu fechar os olhos.

quinta-feira, dezembro 18, 2003

Roubar O Lugar Da Solidão Que Me Acompanha

Às vezes,
Por um momento,
A insegurança
Toma conta de nós

Aí, o tremor
Subsistui-nos a voz

E eu grito,
bem alto,
por dentro,
EU NÃO CONSIGO!!!

Mas,
de súbito,
Rio! Reabro os olhos

E tudo reaparece;
quando olho,
e vejo que...

Estás comigo.

Lado a Lado Com A Identidade

Danço um tango com a vida
Com o presente, o passado e o futuro
Tudo no mesmo instante.
O instante... Ou a eternidade!

Nasço já com 3 milhões de anos
E preguiçosamente,
Continuo a saber tanto como há três milhões de anos

E sou feliz? Felicidade é instante!
E instante não tem tempo.

Presente??? Ups! Já passou!
Fica memória e sonho
Vida, afinal!
Desde que se os não queira comparar
Ao que quer que seja

E exprimo tudo isto por palavras
Os pequenos nadas.
Utensílios nossos de combate à solidão

E assim faço a diferença
Num espaço que se chama Tempo
Em que 1000 coisas mudam Todos em poucos anos

Fazendo inveja ao espaço, Tempo em que apenas
3 ou 4 tufões tinham lugar
Para nos ferir ou alegrar

Na permanente ilusão de ser

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Pleonasmos Oximorógicos

Subi e subi e subi
Para cima.
E quando, finalmente, cheguei lá abaixo
Voltei para trás

terça-feira, dezembro 09, 2003

16 Linhas Sem Princípio Nem Fin...alidade

Vamos começar pelo início.
Primeiro veio o fim,
Assim parecia asfixiando-se-me a alma daquela maneira,
Ai aqueles cabelos…
Depois veio o motivo
Motivo para lutar
Não te ia deixar partir
Depois da luta vieste finalmente.
Depois veio a apatia da rotina,
Assim surgiu a loucura,
E mais tarde os cabelos brancos
Doces cabelos brancos,
O platónico nunca parecera tão atingível
Só então veio a percepção.
Tanto desperdício…
O horror! O horror!!!

Palavra!

Palavra que se mexe
Sentido puro que cresce.
Um movimento agreste
E já não sai nada que preste

Modulada pela inspiração
Fazem de ti o que não és
Para os outros imitação,
Para mim...És o que És

Pena de Pena

Esta é a pena que me comove.
A pena que se perde e acha em ti o sentido
O sentimento em forma de estrofe
A tristeza. A beleza. O que me faz perdido.

Estados de Espírito

Vontade que não flui...
Rio estanque do pensamento
Desagregação e arrependimento
Dispersão, raiva, aborrecimento.

Impaciência, Irritação,
Frustração e Decepção.

Não querer
Não apetecer
Não fazer...
Tudo parte do mesmo ser:

EU

quarta-feira, dezembro 03, 2003

O poder do conhecimento

E agora tudo se complica…
No momento em que tudo parecia fácil
Impenetrar foi complicar.
O que era, agora é pouco.
E querer mais é permanente insatisfação.
Gargalhadas de loucura, de tristeza. De incompreenção…
Chora-se o que não foi, o que nunca será.
Culpa-se a imaginação por ter querido mais
Culpa-se a iniciação por ter mostrado mais
E, em desespero, culpa-se a coisa por existir.

quarta-feira, novembro 26, 2003

Mentir Com Convicção

Este, que não sou eu, que é apenas parte de mim,
Um dia dedicar-se-á por completo à escrita.
Não sei se vai conseguir mas todos nós sonhamos e essa é, de facto, a melhor parte de nós.
Só espero que atinja esse sonho e espero também que quando deixar de o ser, existam mais sonhos que lhe permitam viver e não apenas existir.
Querer existir noutro sítio que não este, o da verdadeira mentira.
Estar certo que a escrita é garantia de para sempre continuar a sonhar.
Embora ela lhe traga mais dor que alegria, tudo nela o compraze.
Então tenta comprazê-la a ela.
Mas sente que fica sempre a um ou mais passos de distância...
Quanto mais escreve, melhor compreende que apenas se apanham flashes da parte fugidia que nela existe.
Pois ela será sempre livre, indomável e inatingível.
E ele nunca será nada do que ela é, senão a parte dela.

À Nossa Descrição

À descrição, gritei bem alto: “NÃO ME OUÇAM QUE EU SOU DISCRETO”!

E como isto era o normal, o frequente, o usual, o rotineiro, o habitual
Por aqui,
Todos continuaram, sem parar para escutar, ou pensar, o que quer que fosse.
Isto é para nós a discrição.

Anormal, Estranho, Invulgar, Incomum
Maior motivo de espanto
Seria não o fazer.

terça-feira, novembro 25, 2003

Não fomos mas (és)tivemos

- Mas vou mesmo!
Não sei se vai. Diz sempre o mesmo. Por agora lá vai. Mas volta…
Hoje o dia acabou. Não mais vai ser o mesmo. Mas um dia é apenas uma batalha, não é a guerra.
Isto faz rir, como se um velho como eu tivesse ainda guerras para ganhar. Seja como for, este dia já estava um pouco atrasado. E como o povo diz, não este mas o outro que não é daqui, ‘antes tarde do que nunca’.
O sol nasceu há pouco, veio espreitar os berros que Santã, minha querida e jovem mulher, projectou, carregou e deu à luz à velocidade da mesma, ainda há momentos.
Desde que nos casamos que é assim. Rasgos de loucura que surgem de repente, com certeza do mesmo sítio aonde os rasgos de toda a gente se contêm, e põem palavras e sons arrepiantes na mais doce das bocas, no mais lindo ser humano que até hoje conheci, ou não fosse o simples facto de ter casado comigo, e de comigo já viver já lá vão quase seis anos, prová-lo. Médico nenhum sabe do que se trata. Eu acho que sei. Despeja o pouco de mal em si para conservar o bem mais tempo. Mas na verdade não sei. Nem sempre parece ser assim. Ela, quando volta, também diz que não sabe.
Nos dias que correm a cama parece-me um lugar tão solitário como eu. Talvez daí esta solidariedade entre ela e eu. Fazemos companhia um ao outro, e a doença aos dois, ela com o bicho da madeira eu com o bicho da carne que todos os dias me leva mais um pouco do pulmão. Fumar nunca foi problema. Com 72 anos querem o quê? Que viva para sempre?
Filhos, nunca tive. Não que não quisesse mas o médico disse que era pouco provável. Até há data, já lá vão 72 anos desde que o dia o é para mim e continua tão improvável quanto antes. A Santã tem pena, embora nunca mo tenha dito. Mas quando este seu bebé substituto encontrar a noite sempre escura para sempre sei que vai desejar que o seu destino tivesse sido diferente. Depois, eu desapareço, o silêncio deixa de ser parcial e velho e passa a ser total e tão novo quanto estranho, a casa tornar-se-á a sua única companhia e os vizinhos continuarão os outros para ela. Não era assim antes. Só depois do aparecimento dos rasgos. Pode-se dizer que cá por casa só se sente o menor deles. Mas um velho como eu já só apanha metade do que se diz e faz, por isso não sei bem se é assim. Os rasgos, ela condu-los para a rua, ou melhor, estes conduzem-na a ela (que é nisto que eu acredito) e berra a raiva do mundo ao mundo. Com sons do mundo que ninguém percebe mas que toda a gente entende, acrescidos de alguns dos outros que todos percebem mas ninguém quer entender. É ódio, é raiva. É tristeza, a minha. O povo… tem-lhe medo. Culpam-me por ter trazido o diabo para a aldeia. Se ao menos a vissem quando está cá por casa.
Como não fala com ninguém sem ser comigo, ainda que só em momentos especiais, para o povo ela só tem duas faces a do mal e a da indiferença.

Ela vai, mas sempre volta. Antes voltava pouco depois. Hoje passam-se dias, semanas. Resta-me a cama…

Os anos foram passando. Não sei se chegou a voltar. Quero acreditar que sim. Há já algum tempo que a cama também parece ter deixado de ser minha companhia. Agora sinto um peso invulgar. Mas já não sinto dor. Sinto imprecisão e, ao mesmo tempo, não sinto nada. Vou esperar. Sei que há-de voltar.

A verdade é que nunca mais voltou. Nem eu, tal como me conhecia…

quarta-feira, novembro 19, 2003

Belas Asemioses

Expiro signicado-zero
E, no entanto, acenam, sorriem.
Uma porta fecha-se zangada.
Chateada com o barulho, incomodada.
Só ela percebeu que não passava de barulho!
Finco os dentes. Finjo. Não me atrapalho.
A ranhura abre, momentaneamente, a boca de espanto.
Atrapalhadamente, procuro, rapidamente, a chave que, facilmente, a alimente.
E entro...
Trocamos conversas de silêncios, inúmeros segredos.
Com olhares e perplexidade comunicamos.
Finjo. Aceno, sorrio e saio.
Entretanto… O barulho volta.

quarta-feira, novembro 12, 2003

Literatura? Desculpe?!...

Cinco vezes quatro, vinte
Cinco vezes cinco, vinte e cinco

Rapazote
12-11-03



Vai pessoal, digam todos que isto é literatura que, com uma comunidade grande atrás de mim, ninguém poderá negar que sou um "literaturador", e assim negar todo um passado!

P.S. Tributo a todos os pragmáticos do mundo.

‘E o senhor… O que deseja?’

As coisas em que a_gente acredita...

Instintos naturais de (des)conforto

Confortável. Num momento em que tudo existia para mim, a escuridão tornara-se um lugar acolhedor, um lar, um casulo que não pretendia deixar. Não conhecia história nem percepcionava formas, apenas ferviam impulsos que de tão rápidos que eram me transmitiam serenidade, conforto e calma. Por momentos percebi ser o mar certo para pescar. Não fora o frio que se instalou aos pouquinhos ali ao meu lado e nada disto me teria sido dado a perceber. Sem essa outra coisa, que em menos de segundos gelou tudo aquilo que me estava a ser proporcionado, tudo isto me teria passado despercebido, qual rosa em pântano sombrio. No meio do sonho, que não era, sentia um soluçar interminável, uma gota de água que se isolava e cujo volume aumentava e aumentava dentro de mim como se me chamasse, empurrasse e berrasse pela minha ajuda. Agora um desconforto apoderava-se de mim, o que fazia com que lentamente as coisas ganhassem forma e conteúdo e metafísica. Desconfortável. Lentamente abro os olhos só para ver por uns segundos; para explicar à mente como tudo está bem, como posso voltar aquele lugar que só existe quando neste tudo está bem - e estar bem... enfim, é o contrário de estar mal. Mas não estava. Os soluços vinham daqui. A gota de água tornara-se agora inundação. Choravas! Não como nos outros dias em que o fazias. Gemias, soluçavas, bradavas por dentro... Sem saberes muito bem, chamavas por mim. Isto embora soubéssemos os dois como todos os motivos e formas de ultrapassar a dor me eram superiores, ainda mais agora, vindo eu daquele mundo sem forma, que por uns tempos me deu uns poderes e me tirou outros. Acompanhei-te na tua dor. Minha dor agora. Que me corroía e procurava por soluções rápidas, mas não bruscas. Segurei-te e dei-te tudo aquilo que por momentos tive. E quente, e calma e sempre bela... adormeceste.

terça-feira, novembro 11, 2003

"We wish you a make my Christmas and a happy new year"

Que é essa coisa do espírito natalício? Perdão, espírito de consumo!!! Deve ser esse espírito fantástico que, não as ocasiões mas sim as superfícies comerciais, nos transmitem a todos.
Obrigado por existirem!
(bah!)

Simples

Hoje eu querer dizer tudo muito simples. Ontem e em mais outros ontem eu dizer tudo menos simples, tudo mais menos simples. Simples não ser?

sexta-feira, novembro 07, 2003

A Dúvida

A dúvida do sussurro
Está no própria sussurro.

Ela sussurrou-me
'Amo-te!'.

Não tivera sido
A dúvida...

E eu já me teria perdoado
De ter duvidado.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Incompletidão natural...

Era noite. Como todas as outras noites olhava para a mesma parede branca com um pequeno quadro ao meio, quadro esse de moldura tão pequena quanto torta. Mas apenas nestes momentos! Em que as lágrimas são maiores que os globos oculares e me impedem de ver a moldura como ela realmente é.
Como todas as outras noites o som era aterrador. Buscava dentro de mim a explicação. O que poderia eu saber? Com 18 anos sentia-me tão ignorante quanto há vários anos. De facto, desde que me lembro de me lembrar do que quer que seja.
Lá fora os berros eram os mesmos de sempre. Isolava-me no meu castelo... de papel, pois este não conseguia evitar o inimigo nem por terra nem por ar, sendo incapaz perante os estridentes gritos projectados directamente do sítio de onde eles não deviam vir, em direcção à minha cabeça.
Mais uma vez a minha mãe entrava neste estado de semi-loucura que cá por casa todos nós nos habituámos a tratar por ?neura?.
Como sempre esta discutia por motivo nenhum. Por pura insatisfação própria talvez. Seja como for, éramos nós quem sofríamos e ela quem desesperava por uma solução que esperava vir atrás de cada berro, de cada lamento, enfim... Que mais não eram que isso. Em suma: mimo, casamento infeliz, divórcio, pais falecidos e dois filhos para criar.
A cobaia dela hoje foi o Leonardo, meu único irmão, de 22 anos, semi-casado e semi-viúvo. Mas para ele aqueles gritos eram nada perante o facto de a noiva que com ele se preparava casar na semana que agora se segue ter sofrido um acidente de automóvel há dias e, agora, semi-jaz em coma no hospital de Leiria, que, tendo em conta o seu nível de atendimento, mais parece uma casa mortuária, ou semi-mortuária... e que espero não faça agora uso da malfama que a metonímiza.
Saí de casa. Não me interessa a hora.
A minha relação com a Drica, como todos lhe chamamos, nunca foi muito próxima. Se fosse acho que já a teria visitado. Custa-me também a dor física dos outros. Daí ainda não lá ter ido ainda. A dor psicológica parece-me banal. Depois de anos a suportá-la finalmente fui compreendendo que esta não desaparece, segue em nós em todos os momentos. Aprendi a conviver com ela e hoje somos quase parentes. Daí não me faça impressão a dor dos pais da Drica, nem sequer a dor do meu irmão. Sinto-me simplesmente um estrangeiro perante o choro. Não na língua, que a linguagem do choro ficou, juntamente com poucas outras coisas, para lá do desabamento da torre de Babel. Sinto-me assim na atitude, no desprezo pela dor que mais não parece que um ritual sem força para entrar na minha redoma de papel.
A culpa do acidente não foi do outro. Foi mesmo da mãe da Drica, uma vez que a Drica conduz mal e nisto sai, sem dúvida, à mãe. Segundo o que o 'outro' conta, ela apareceu vinda de lado nenhum e acertou-lhe de lado só o percebendo ele quando reparou que o carro estava já voltado, pronto para ir de volta para o sítio de onde nunca deveria ter vindo. Mais pormenores só quando ela voltar do pesasonho; remediável, esperemos nós.
Mesmo tendo já passado a casa da Maria das Cebolas, a voz da minha mãe continua perfeitamente audível. À minha volta as pessoas fingem ser mais surdas do que eu finjo ser. Mudas concerteza não serão quando a minha frente se metamorfosear na minhas costas, por artes mágicas que só quem tem pernas para andar, e vergonha para pensar, consegue compreender.
Trago na mão o manual de como domesticar o seu cão. Procurei o outro relativo às mães. Não encontrei. Contentei-me com este. Apesar de já muito dobrado ainda não o li. As imagens parecem-me aborrecidas. Imagino que as letras aí riscadas em séries capitalistas de maços de 16 páginas não sejam melhores. Nem quero saber. Às vezes quero. Não sei...
Tendo chegado ao hospital tudo era como previra. A mãe da Drica joga-se a mim a chorar, como que para compensar a falta que a cama lhe fez durante a noite, não fosse a vizinha dizer alguma coisa; e a falta de lenço, sabe-se lá porquê. Talvez a minha camisa lhe tenha parecido mais adequada.
Em silêncio olhei em volta. Tectos brancos, lençóis brancos... tudo embutido na pálida cara da semi-noiva, que pelo aspecto não dava bem a ver se as paredes e os lençóis chegaram antes dela, se depois, isto porque a mãe da Drica é daquelas que gosta de ver tudo a condizer.
Não fiz perguntas. Sei que não sabiam mais do que eu.
-Adeus.
Saí.
Fugira do barulho em casa. Mas este silêncio era bem pior. Este nunca fizera parte do meu mundo. Para mais, era um silêncio novo, desconhecido. Não doentio. Simplesmente desolado. Ao que eu não estava acostumado.
Não soubesse eu que o meu irmão estava a discutir – discutir, como quem diz... pois este só ouve, pouco fala - e ter-me-ia admirado de o não ter visto ali dando as mãos esperançadas à semi-noiva e repetido pela milésima vez à semi-sogra, como tudo isto era inacreditável, como poderia tudo isto ter acontecido logo agora e como o 'outro' deveria estar a esconder alguma coisa.
Testemunhas só mesmo a inconsciência de dois, pois mais ali não haviam, e estas não contam, muito menos se uma dessas inconsciências tiver reduzida a metade, ou a metade disso ainda, e se a outra, ou o 'outro' – que dessa não faz parte, for inocente, pelo menos até que as partes todas da Drica, que por natureza nunca foi bem inteira de si própria, se juntem de novo e mintam ou desmintam disto mesmo?

terça-feira, novembro 04, 2003

Existência? Aqui? Ali? Onde? Qual?

Eu sou uma personagem de papel.
Não a que vês mas a que lês.
Não sou pessoa. Só personagem.
Sou o que te faz rir, chorar, viver,
Aqui!
Porque eu não sou assim; nem assado,
Não sou nada. Sou tudo!
Tudo o que não vês,
Tudo o que não imaginas,
Sou o espontâneo, o natural, a matéria,
O que, simplesmente, não existe.
A palavra tudo diz (mas nada é).
Sem ela o tempo passa e nada resta. Nada fica.
Mas eu nem na palavra caibo.
Eu simplesmente não sou. Não serei! Nunca!
Nem aqui. Nem fora daqui onde sou... o normal...
Normal é ser cinzento
Que se mistura no resto,
Que faz parte dele, está nele
E, quase sempre,
É ele.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Complot

Tristeza visceral!
Capacidade neuronal
Que se dilui
Na própria memória daquilo que cria.
Questão permanente se devia ou não devia...
E, entretanto, o mistério se destrói.
Por força do mal,
Provocada por aquela coisa visceral.

terça-feira, outubro 28, 2003

Tudo Saber

Não sei, quanta coisa eu não sei
Que reflicto, olho, desisto, enfim.
Vergonha, culpa, ira em mim
Quando tudo perdi, porque a alma não dei

O verdadeiro 'desconhecido'

Ignorância feliz que me manténs
De mim não sabes o que eu não sei
Vives daquilo que eu não te dei
E eu vivo em ti, porque mais nada sei

A minha 1ª reminiscência

Sentei-me. Sorri.
Feliz, porque o resto do mundo
Não existia!
Não importava para mim.

Sabia que fazia o que não devia.
Só não sabia que o sabia.
Vasculhava o que hoje são memórias.
Procuro… Já não sei o quê
Acho que nunca o soube.

Inocente pensava se um dia
Me lembraria daquele momento.
Tantas vezes repeti esse pensamento…
Só este ficou.

sexta-feira, outubro 24, 2003

Insaciadade Inquietante e Permanente

Num breve momento de clarividência
Percebo que a culpa é só minha
O meu passado... O presente que já não o é.

"Não sou eu nem o outro..."
Pois não. Porque eu era o outro
Mas o outro já não sou eu.

Sou o ser novo.
O que não se conhece.
O desassossegado que se procura.

Infeliz. Triste. Saudosista.
A minha única certeza és tu!
Ainda que não sejas mais a outra...

Aquela que o outro conheceu.
Não eu...
Mas os restos do que de mim ficou.

quarta-feira, outubro 22, 2003

Dor Fiel

Eu tenho uma dor
Nascida em mim, formada em mim
Que ninguém me pode tirar

Causa-me um sofrimento que é só meu
E a ninguém tenho que prestar contas.
É dor! Sim é dor. Em mim.
Mas esta dor é liberdade! É a liberdade de te amar

O Meu Anjo da Morte Chegou e Levou-me

Aqui jaz o poema
Enquanto forma de enunciação
Aqui jaz a ternura
Que existia no meu coração

Consumismo Que Me Consome

Conto as linhas que escrevo
Conto os cigarros que fumo
Números... Metáforas que não me dão rumo
Não me mostram o fumo. E linhas... Não as vejo

Muda-se o Estado Mudam-se as Maldades

Amor cuidado!
Que o mundo hoje está diferente
O ditador agora é o estado.

Raiva

A raiva,
Um espinho no olhar,
Rasga as paredes do meu ser.
Não ouve, não vê, não...
Não. NÃO! NÃO! NÃO! NÃAAAAAAAAAAAAAAÃO!!!!!

quinta-feira, outubro 16, 2003

Saber o Verdadeiro Saber e Enunciá-Lo Em Berros Mudos

Amar a dor dos olhos teus.
Pensar. Desesperar! Sentir que o enganado fui só eu...
Olhava-te a ti ou rejeitava a deus?
Duvida se o que eu via ele alguma vez escreveu.

Perfeição celestial: imaginário humano.
A igualdade não é potencial
É qualidade do insano.
Insano eu, ao ver(-te). O ideal metamorfosear-se... Imaterial.

E agora sei, mas o tempo já passou.
Arrisquei saber mas não pude aproveitar.
O conhecimento é de quem ousou...
Mas de quem cá não ficou para contar

Boiam Direitos Das Costas dos Sabões

Boiam sabões das costas de Marrocos
Em alegre pescaria levo com um na barriga.
Durante dias lavou-me o espírito. Abriu-me os olhos!
O resto da vida... Não sei que te diga.

Estes olhos ardem.
Esta fonte de toda a chuva ácida são lágrimas.
O que elas levam só elas sabem,
Mas ao evaporar... restam nestas páginas.

Escrever direito o que direito não existe.
Existe apenas o conceito;
Pois a realidade é bem mais triste;
Porque justiça e o direito não começa nem desiste.

Rio... Rio:)

Cego, ego...
É o amor que escrevo.
Licor de café com tequilha!!!
Uma bebedeira... e nado. Vou tranquilo.
Por um metro? Não! Uma milha!