X – Então, vamos lá descobrir a verdade?!
Y – Embora!
X – Mas só a absoluta!
Y – Claro! Senão não é a verdade!
X – Fotografaste-o?
Y – Sim, foi simples!
X – Olha lá para isto comigo, então.
Y – Está bem.
X – Então, mas isto não é a verdade!
Y – Não?!
X – Pois claro que não! Aqui não está o que veio antes, nem o que vem depois. E, para mais, só mostra uma das faces daquilo; e de uma só perspectiva, diga-se. Já para não ir mais longe e dizer que no processo da foto, ela primeiro estava ao contrário e só depois é que foi para o direito!
Y – Mas olha, o Z também gravou isto em VHS, queres ver?
X – Yeah, isso de certeza que resolve a questão!
Y – Vês, aqui está! O antes e o depois! Bem focado e tudo! E filmou-o todo à volta.
X – O quê?! Achas? Aqui só vejo um bocadinho do antes e do depois! E quando ele anda à volta deixa-se de ver o que está do outro lado!
Y – Ishhhh, pois é! Olha, vamos falar com o N. Dizem que os artistas são os melhores na procura da plenitude. E ele é um artista, oh diz lá a verdade?!
X – Eh… Oh, referes-te ao quadro do N. Eu também gosto do N mas temos que dizer a verdade, o objecto aqui é a cara dele!
Y – Eu não acho!
X – Pois também ele não devia ter achado, porque isso de achar é que o fez fazer isto! Alcançar a verdade equivale a olhar para ela sem filtros no meio, percebes? E já viste as cores? O que é que é aquilo?
Y – Devia ser de noite!
X – Oh, mas de noite ou de dia aquilo não é o mesmo?
Y – Pois… Devia ser… Mas olha lá, o que é que é aquilo para ti afinal?
X – Então… É aquilo não estás a ver?
Y – Estou mas...
X – Ah, já estou a ver. Olha aquilo é a,q,u,i,l,o. Está melhor?
Y – Ah, sim já estou a perceber! Então, mas se eu só ainda tivesse 6 meses e não conseguisse falar, aquilo não era o mesmo?
X – Era, era. Tu é que não!
Y – Hum. Eu nem devia dizer isto, mas… Sabes, no outro dia levei-o para casa e andei às voltas com ele. Abstraí-me de mim mesmo e mexi-lhe. Mexi-lhe mesmo! Olhei-o, cheirei o seu perfume, senti-lhe o gosto. Ouvi-o, percebes! Acho que consegui sê-lo!
X – É isso! Isso é que é a verdade! Já sabias afinal! Então diz lá como é que foi?
Y - Eh pá, não me lembro bem. E o que sei não consigo explicar…
X – Oh… Deixa para lá. Mesmo que te lembrasses, já foi no outro dia. E sabes bem que a memória não é. Parece! É como a fotografia de um quadro que caiu na lama e que, embora às vezes se suje mais que noutras, todos os dias está um bocadinho mais estragada. É a outra luz de nós. Pena só brilhar com força às vezes!
Y – Que chatice! Isto afinal não é assim tão fácil.
X – E temos sorte que aquilo está quieto, senão já estás a ver!
Y – Pois estou, estou! E já viste se aquilo pensasse?
X- Ah, ah, ah. O mais certo era estar agora a olhar aqui para nós, para saber, na verdade, o que estamos para aqui a fazer.
Y – Olha, verdadeiramente, mesmo que quisesse também não te sabia dizer.
X – Deixa lá isso. Vamos a mais um copo?
Y – Mais ainda? Heia!
X – Vá, desta vez pago eu.
Y – Vá. Vamos lá ter com N e com o Z, então.