sexta-feira, janeiro 09, 2004
Felizmente Ó Luar
Descalço os sapatos, que de tão molhados e enroscados parecem sofrer de cirrose, e reencontro o conforto. A lareira, que quando cheguei já rejubilava, solta flamas saltitantes que, fixadas, me observam e rodeiam, para meu aconchego. Em Israel chove igualmente. Bombas que nenhuma lareira consegue secar. Pelo menos é o que diz o homem da caixinha ao fundo. Ele é que sabe! Perguntem a quem quiserem. Entretanto a porta bate. Os músculos, doridos e adormecidos, fazem grande esforço na direcção da gravidade e impedem de me levantar. Entras, e sem um beijo, nem um lamento, descalças-me as meias e descolas-me as calças e a camisa. Então sim, beijas-me. Imaginava-me, igualmente, a desconstruir as tuas vestes molhadas. Mesmo que o quisesse, os músculos tinham-me presos a um cadeirão, que só agora reparei estar aqui, e a lareira havia conspirado contra mim, enganando-me através de movimentos animados, fazendo com que os olhos, os incessantes conhecedores de tudo, entrassem agora, lentamente, no desconhecido. E, sem querer saber bem porquê, sentia-me bem.
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