quarta-feira, novembro 12, 2003

Instintos naturais de (des)conforto

Confortável. Num momento em que tudo existia para mim, a escuridão tornara-se um lugar acolhedor, um lar, um casulo que não pretendia deixar. Não conhecia história nem percepcionava formas, apenas ferviam impulsos que de tão rápidos que eram me transmitiam serenidade, conforto e calma. Por momentos percebi ser o mar certo para pescar. Não fora o frio que se instalou aos pouquinhos ali ao meu lado e nada disto me teria sido dado a perceber. Sem essa outra coisa, que em menos de segundos gelou tudo aquilo que me estava a ser proporcionado, tudo isto me teria passado despercebido, qual rosa em pântano sombrio. No meio do sonho, que não era, sentia um soluçar interminável, uma gota de água que se isolava e cujo volume aumentava e aumentava dentro de mim como se me chamasse, empurrasse e berrasse pela minha ajuda. Agora um desconforto apoderava-se de mim, o que fazia com que lentamente as coisas ganhassem forma e conteúdo e metafísica. Desconfortável. Lentamente abro os olhos só para ver por uns segundos; para explicar à mente como tudo está bem, como posso voltar aquele lugar que só existe quando neste tudo está bem - e estar bem... enfim, é o contrário de estar mal. Mas não estava. Os soluços vinham daqui. A gota de água tornara-se agora inundação. Choravas! Não como nos outros dias em que o fazias. Gemias, soluçavas, bradavas por dentro... Sem saberes muito bem, chamavas por mim. Isto embora soubéssemos os dois como todos os motivos e formas de ultrapassar a dor me eram superiores, ainda mais agora, vindo eu daquele mundo sem forma, que por uns tempos me deu uns poderes e me tirou outros. Acompanhei-te na tua dor. Minha dor agora. Que me corroía e procurava por soluções rápidas, mas não bruscas. Segurei-te e dei-te tudo aquilo que por momentos tive. E quente, e calma e sempre bela... adormeceste.

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